O GENOCÍDIO ARMÊNIO
TRECHO DO ROMANCE HISTÓRICO " A ÚLTIMA POESIA - DO ORGULHO NASCE A GUERRA " DE MAX WAGNER.
O termo genocídio ainda não existia em 1915 quando os armênios foram massacrados, ele foi cunhado em 1944 pelo advogado judeu-polônes Raphael Temkim, ele considerou o massacre contra os armênios o primeiro genocídio famoso da história, depois o termo seria emprestado também para designar o massacre contra os judeus durante a Segunda Guerra Mundial. Genocídio significa: matança de um povo ou nação, o termo foi tirado da palavra grega Geno (povo) e da palavra latina Cídio (matança).
O massacre dos armênios foi a matança e deportação de milhares de pessoas de origem armênia, que viviam no Império Otomano, com a intenção de exterminar sua presença cultural, sua vida econômica e seu ambiente familiar, durante o governo dos chamados Jovens Turcos, um triunvirato formado por Enver Pacha, Cemal Pacha e Mehmed Talaat.
Em 25 de fevereiro de 1915, o líder do governo Enver Pasha enviou uma ordem para que todas as unidades militares armênias nas forças otomanas fossem desmobilizadas, desarmadas e transferidas aos batalhões de trabalho, Enver explicou esta decisão como "Por medo de que eles colaborassem com os russos". Como tradição, o exército regular, quando composto por não muçulmanos, reunia homens com idade de 20 a 45 anos. Os soldados não muçulmanos mais jovens (15-20) e mais velhos (45-60) sempre atuavam no apoio logístico através dos batalhões de trabalho. Antes de fevereiro, alguns dos recrutas armênios foram utilizados como trabalhadores sendo, por fim, executados. Transferir recrutas armênios do serviço ativo para o setor de logística era um aspecto importante do massacre. O Comitê de Líderes da União e Progresso, responsável pelo massacre, resolveu libertar da prisão 12.000 criminosos que cumpriam diversas condenações, em troca deveriam se encarregar do massacre dos armênios. Em 19 de abril de 1915, o líder turco Jevdet Bey exigiu que a cidade de Van entregasse 4.000 soldados sob o pretexto de recrutamento.
Ficou claro para a população que seu objetivo era massacrar os homens capazes de Van, para não deixar-lhe defensores. Jevdet Bey já tinha usado uma ordem oficial por escrito em aldeias próximas, ostensivamente para procurar armas, era o início dos massacres. Para ganhar tempo, os armênios ofereceram 500 soldados e dinheiro para isentar o restante do serviço. Jevdet acusou os armênios de rebelião e afirmou sua determinação de esmagá-los a qualquer custo. Em 20 de abril de 1915, o conflito começou quando uma mulher armênia foi perseguida e dois homens armênios que vieram em seu auxílio foram mortos por soldados otomanos. Em Van, os defensores armênios protegeram 30.000 pessoas e 15.000 refugiados em uma área de um quilômetro quadrado do bairro armênio de Aigestan, com 1.500 fuzileiros armados com 300 fuzis, pistolas e 1.000 armas antigas. O conflito durou até que o general russo Nikolai Yudenich viesse resgatá-los. De Alepo relatos semelhantes chegaram ao embaixador estadunidense Henry Morgenthau, levando-o a cobrar a questão pessoalmente com Enver Pasha. Ele argumentou que as deportações eram necessárias para a condução da guerra, sugerindo que a cumplicidade dos armênios de Van com as forças russas ocasionou a perseguição de todos os armênios.
Na noite de 24 de abril de 1915 (O Domingo Vermelho) foram aprisionados em Constantinopla mais de seiscentos intelectuais, 16 políticos, escritores, religiosos e profissionais armênios foram levados à força ao interior do país e assassinados. O Domingo Vermelho foi a noite em que os líderes dos armênios foram presos e enviados para centros de detenção perto de Ancara, pelo então ministro do Interior Mehmed Talaat . Estes armênios foram posteriormente deportados com a aprovação da Lei Tehcir (sobre confisco e deportação) em 29 de maio de 1915. Para justificar este crime enorme, o material de propaganda foi cuidadosamente preparado em Constantinopla. (ele incluiu declarações como) "Os armênios estão em conluio com o inimigo. Eles vão lançar um levante em Istambul, matar o Comitê de Líderes da União e Progresso e terão sucesso na abertura do estreito (de Dardanelos)”.
Eitan Belkind, infiltrou-se no Exército otomano como um oficial e foi designado para o quartel general de Kemal Pasha. Ele alega ter testemunhado a queima de 5.000 armênios. Os habitantes das aldeias armênias eram reunidos e depois queimados. O método mais rápido para a eliminação das mulheres e crianças que estavam nos campos de concentração foi o de queimá-las. Russos afirmaram que, vários dias depois, o odor da carne humana queimada ainda impregnava o ar.
Muitas crianças foram colocadas em barcos, levadas e jogadas ao mar. Milhares de mulheres e crianças inocentes foram colocadas em barcos e atirados no Mar Negro. Prédios escolares foram usados para colocar crianças e matá-las com equipamentos de gás tóxico. O tifo também foi usado para exterminar. Armênios inocentes prontos para deportação foram inoculados com febre tifoide, Os médicos foram diretamente envolvidos nos massacres, envenenado bebês e fornecendo atestados de óbito falsos, indicando morte por causas naturais para crianças, milhares de cadáveres foram cobertos de cal.
Em 29 de maio de 1915, o Comitê para a União e o Progresso aprovou a Lei temporária de deportação, dando ao governo e militares otomanos autorização para deportar aqueles vistos como uma ameaça à segurança nacional. Em setembro uma nova lei foi proposta, conhecida como a "Lei temporária sobre expropriação e confisco", o governo otomano tomou posse de todos as propriedades e bens armênios abandonados. Os proprietários, não abandonaram suas propriedades voluntariamente, eram forçosamente, retirados de seus domicílios e exilados. O governo vendeu os bens, incluindo terras, gado e casas pertencentes aos armênios. O confisco de bens e o massacre de armênios indignaram grande parte do mundo ocidental.
Os aliados do Império Otomano ofereceram pouca resistência, mas uma riqueza de documentos históricos alemães e austríacos atestam o horror nos assassinatos e fome em massa de armênios. Nos Estados Unidos, o jornal The New York Times relatou quase diariamente sobre o assassinato em massa do povo armênio, descrevendo o processo como "sistemático", "autorizado" e "organizado pelo governo". Evidências sugerem que o governo otomano não forneceu quaisquer instalações ou suprimentos para sustentar os armênios durante a sua deportação para o deserto, nem quando eles chegaram.
Em agosto de 1915, o New York Times repetiu um relatório em que "Nas estradas e no rio Eufrates estão espalhados os cadáveres dos exilados, e os que sobreviveram estão condenadas a uma morte certa.” Tropas otomanas escoltando os armênios não só permitiram roubos, estupros e assassinatos de armênios, como muitas vezes participaram destes atos. Privados de seus pertences e marchando para o deserto, centenas de milhares de armênios morreram. A taxa de mortalidade por fome e doença foi muito alta, e aumentou com o tratamento brutal das autoridades, cuja relação com os exilados no deserto é similar aos mercadores de escravos. Nenhum abrigo de qualquer tipo foi fornecido e as pessoas foram deixadas sob o sol escaldante do deserto, sem comida e água. Alívio temporário só pôde ser obtido com o suborno dos funcionários. A política turca de causar a fome é uma prova óbvia de que a Turquia estava decidida a varrer os armênios da face da terra.
Engenheiros alemães e trabalhadores envolvidos na construção da estrada de ferro Berlim-Bagdá, testemunharam armênios sendo amontoados em vagões de gado e enviados ao longo da linha férrea. Acredita-se que 25 grandes campos de extermínio existiram, sob o comando de Şükrü Kaya, um dos maiores colaboradores de Mehmed Talaat. A maioria dos campos situavam-se perto das fronteiras entre Turquia, Síria e Iraque. Alguns campos foram usados temporariamente, para enterrar os corpos em valas comuns, outros campos foram para àqueles que tinham expectativa de vida de alguns dias. Sangue fluindo em vez de água no rio, e milhares de inocentes, crianças, idosos, mulheres indefesas e jovens fortes estavam caminhando para a morte neste fluxo de sangue.
O Comitê de União e Progresso havia jurado matar qualquer armênio que sobrevivesse as marchas de deportação. O Império Otomano torturou, matou e expulsou quase dois milhões de armênios, Menos de 100.000 foram deixados vivos. Os alemães, aliados dos turcos viram como as populações foram fechadas em igrejas e queimadas, ou reunidas em massa em campos, torturadas até a morte, e reduzidas a cinzas. O Alto Comando alemão estava ciente dos assassinatos em massa, mas preferiu não interferir ou falar. Quando a cidade de Alepo caiu nas mãos dos britânicos, foram encontrados muitos documentos que confirmavam que o extermínio dos armênios foi organizado pelos turcos. Um destes documentos é um telegrama circular dirigido a todos os governadores, que se caso se opusessem a esta ordem não poderiam pertencer à administração, não deveria existir consideração alguma pelas mulheres, as crianças e os enfermos, por mais trágicos que possam ser os meios de extermínio, era necessário por fim à existência dos armênios. Fotografias encontradas sugerem que alemães participaram do assassinato em massa.
A Fundação Oriente Médio, organizada pelos Estados Unidos foi criada em 1915, logo após as deportações, cujo principal objetivo era de aliviar o sofrimento do povo armênio. A fundação ultrapassou a estimativa de ajuda inicial, e auxiliou aproximadamente milhares de refugiados. Em seu primeiro ano cuidou de 132.000 crianças órfãs armênias. A enfermeira e missionária norueguesa Bodil Biorn foi enviada para a Armênia, ela trabalhou para auxiliar as viúvas e crianças órfãs, em cooperação com missionários alemães. Ela testemunhou os massacres e viu muitas das crianças sob seus cuidados assassinadas juntamente com sacerdotes armênios, professores e assistentes, lela cavalgou por nove dias no deserto, fugindo das tropas tuco-otomanas para ajudar os armênios desabrigados.
Em geral, as caravanas de armênios deportados não chegavam muito longe. À medida que avançavam, seu número diminuía com consequência da ação dos fuzis, dos sabres, da fome e do esgotamento. Os mais repulsivos instintos animais eram despertados nos soldados, desgraçadas criaturas, torturavam e matavam. Se alguns chegavam a Mesopotâmia, eram abandonados sem defesa, sem víveres. Em lugares pantanosos do deserto: o calor, a umidade e as enfermidades acabavam com a vida deles. Durante o dia não tinham água, e as crianças choravam de sede; e pela noite os muçulmanos vinham aos leitos e roubavam as roupas, violavam as meninas e as mulheres. Quando já não podiam mais caminhar, os soldados as espancavam. Para não serem violentadas, as mulheres se matavam, muitas abraçando crianças de peito.
Aproximadamente 12.000 armênios foram concentrados sob a tutela de algumas centenas de curdos... Estes curdos eram chamados de "policiais", na verdade eram carniceiros; bandos deles foram publicamente ordenados a levar grupos de armênios, de ambos os sexos, para destinos diversos, mas tinham instruções secretas para matar os homens, crianças e mulheres. As cisternas vazias do deserto e as cavernas também foram preenchidas com cadáveres. O cultura do povo armênio não desapareceu nos desertos da Mesopotâmia: as mães armênias ensinavam a ler aos seus filhos desenhando as letras do alfabeto armênio na areia. Mortes e torturas, destruição premeditada do patrimônio cultural, religioso, histórico e comunitário armênio foi negado pelos turcos. Igrejas armênias e mosteiros foram destruídos ou transformados em mesquitas, cemitérios foram destruídos, em várias cidades como Van, bairros armênios foram demolidos.
Além das mortes, os armênios perderam suas propriedades e bens, sem compensação. Empresas e fazendas foram perdidas, e todas as escolas, igrejas, hospitais, orfanatos, conventos, e cemitérios tornaram-se propriedade do Estado turco. Em Janeiro de 1916, o Ministério Otomano do Comércio e Agricultura emitiu um decreto ordenando a todas as instituições financeiras que operavam dentro das fronteiras do império a entregar os bens armênios ao governo. Ouro, imóveis, dinheiro, depósitos bancários e joias foram então canalizados para os bancos europeus, a maioria alemães. Acredita-se que cerca de 1,5 milhão de armênios foram mortos durante o genocídio, muitos morreram assassinados por tropas turcas, em campos de concentração, queimados, enforcados ou até mesmo jogados amarrados ao rio Eufrates, mas a maioria morreu por inanição, ou seja, falta de água e alimento.
Os sobreviventes do massacre saíram do Império Otomano e instalaram-se em diversos países. Esse fato é chamado de diáspora armênia. Outros grupos étnicos também foram massacrados pelo Império Otomano durante esse período, entre eles os assírios e os gregos de Ponto, esses atos são parte da mesma política de extermínio. Adota-se a data de 24 de abril de 1915 como início do massacre, por ter sido o dia em que dezenas de lideranças armênias foram presas e massacradas em Constantinopla. O governo turco rejeita o termo genocídio organizado e nega que as mortes tenham sido intencionais. Foi uma punição cometida contra cristãos que viviam na Armênia. Setecentos mil homens, mulheres e crianças morreram na marcha forçada pelo deserto, a maioria morreu de fome e sede. Os turcos eram muçulmanos e odiavam os armênios cristãos. Depois de meses de marchas, poucos chegaram ao destino, foi um genocídio em massa de proporções inaceitáveis.
Nenhum comentário:
Postar um comentário