O NAUFRÁGIO DO LUSITÂNIA
- TRECHO DO ROMANCE HISTÓRICO " A ÚLTIMA POESIA - DO ORGULHO NASCE A GUERRA " DE MAX WAGNER.
O RMS Lusitânia foi um navio da Cunard Line. Seu nome é uma homenagem à província romana da Lusitânia que é parte do território de Portugal, seu contrato de construção foi para a Escócia, por isso apelidaram-no "O Navio Escocês" em contraste com o navio Mauretânia, cujo contrato foi para Swan Hunter na Inglaterra, e que iniciou a construção três meses depois. Os detalhes finais dos dois navios foram deixados para designers para que diferenciassem em detalhes de desenho do casco e estrutura. O Mauretânia foi projetado um pouco mais comprido, largo, mais pesado e com um estágio de potência extra montado nas turbinas. O objetivo da construção desses navios foi para competir com navios transatlânticos alemães. O Lusitânia e o Mauretânia foram por alguns anos, os maiores navios do mundo. Superados apenas pelo RMS Titanic, navio da White Star Line que naufragou em abril de 1912, o Titanic fazia parte dos navios da Classe Olympic, era igual a seus irmãos o RMS Olympic e o Britannic.
O lançamento do Lusitânia foi em 7 de junho de 1906, contou com a presença de 600 convidados e milhares de espectadores, A viagem inaugural do Lusitânia partindo do porto de Liverpool com destino a cidade de Nova York, teve início em 7 de setembro de 1907. Era um barco de um luxo impressionante. No seu interior, o salão de jantar fora inteiramente construído em estilo Luiz XV, a sala de estar tinha painéis de mogno e lareira em mármore carrara. Possuía acomodações de primeira, segunda e terceira classes, a capacidade total era de 2300 hóspedes, mais 900 tripulantes. Sem dúvida, o maior - 240 metros de comprimento -, mais veloz e mais sofisticado navio de passageiros da sua época.
Por causa das hostilidades da guerra, o Lusitânia havia deixado sua função de transatlântico de luxo em 1914. No final de abril de 1915, o Lusitânia estava ancorado em Nova York aguardando para uma viagem a Liverpool, o capitão William Turner era o comandante, ele estava muito preocupado por causa da inspeção que fez. Turner viu falhas nos botes e nos tanques de estabilidade - e exigiu algumas reformas. Mas a principal razão do seu mau humor era a ameaça de ataque contra o Lusitânia. O capitão Turner viu um anúncio assinado pela Embaixada Imperial Alemã, e publicada em cinquenta jornais americanos. A nota informava que os navios de bandeira inglesa, ou qualquer um de seus aliados, estavam sujeitos a ser destruídos. Era a oficialização de ameaça. Da Inglaterra, o capitão Hall, da Inteligência Naval, procurou tranquilizar Turner, deixando claro que tratara de armar um ostensivo patrulhamento na rota do navio e garantindo que o Lusitânia poderia regressar sem maiores preocupações. No dia 01 de maio de 1915, após vários atrasos o navio saiu de Nova York com destino a Liverpool, levava duas mil pessoas, alimentos e uma série de produtos para a manutenção da Inglaterra na guerra, um carregamento tão variado quanto altamente explosivo. O navio era alto demais - daí ser apelidado de "galgo dos mares", numa referência ao esguio cão gaulês - e seus botes salva-vidas ficavam suspensos 20 metros acima do nível do mar. Em caso de naufrágio seria impossível lançar a metade dos botes à água. Os alemães já se posicionavam no Atlântico Norte, o último submarino a partir para a costa do Reino Unido foi o U-20.
Turner continuava preocupadíssimo, ele entraria na zona perigosa de Fastnet e o aviso alemão nos jornais americanos não saia da sua cabeça. No dia 05 de maio, surgiu um princípio de nevoeiro na região, o capitão decidiu que se aumentasse a velocidade, atravessaria o estreito Canal de São Jorge - entre Irlanda e País de Gales - durante a noite. A ideia era ficar distante de Fastnet, num curso de 20 milhas ao sul da costa irlandesa. Conhecedor daquelas águas, Turner sabia que podia seguir em frente, orientando-se pelos marcos do litoral. O U-20 passara a sudoeste de Fastnet, seu curso era quase idêntico ao que Turner planejara para o Lusitânia. Ao anoitecer, o submarino avistou a escuna inglesa Earl of Latham, que partira um pouco antes de Liverpool. Rapidamente, trouxe o U-20 à superfície, ordenou que a tripulação abandonasse a escuna e, em seguida, a fez explodir. O submarino alemão ainda tentou atacar um segundo barco inglês, mas que conseguiu fugir ajudado pelo nevoeiro. Temendo, então, uma resposta do patrulhamento costeiro inglês, o capitão Walter Schwieger rumou para alto-mar. Pretendia passar a noite em segurança e na superfície. O Almirantado Britânico logo foi informado dos dois ataques alemães, mas não tomou nenhuma atitude. Somente às 19 horas de 06 de maio, o Lusitânia soube que havia submarinos em atividade ao longo da costa sul da Irlanda. Imediatamente, Turner colocou seu navio em estado de alerta. A bordo a tensão era muito grande. Pela manhã, Turner começou a procurar o cruzador Juno, que deveria estar em algum lugar à frente, para dar proteção. O capitão fez soar a sirene do Lusitânia, para se comunicar com outro barco. Mas, o Juno estava a 100 milhas dali. Só havia o submarino alemão U-20. Schwieger subiu à superfície e rumou a toda a velocidade para Fastnet, Turner também mudou de posição. Ele recebera uma mensagem em código do almirante Coke, mandando que desviasse para Queenstown – o que acabou facilitando as coisas para o U-20. Era como se os dois barcos houvessem marcado um encontro no mar. No começo da tarde do dia 7 de maio, sexta-feira, não havia mais nevoeiro e o capitão Turner pôde avistar a Cabeça Velha de Kinsale - sua referência de continente.
Às 13h40, com o periscópio, o capitão Schwieger viu alguma coisa, era o Lusitânia. Era um alvo fácil, movendo-se a 18 nós em linha reta. O U-20 preparou o torpedo. Enquanto isso, muitos passageiros do transatlântico já tinham terminado de almoçar no salão estilo Luiz XV. Enquanto alguns estavam no convés, aproveitando a tarde agradável, outros esperavam o café na sala de estar. Ao fundo, a orquestra de bordo tocava Danúbio Azul. O clima voltará a ser de tranquilidade, mas o desfecho estava próximo. Às 14h09, o U-20 atirou seu torpedo - uma bomba de 150 quilos. Um dos vigias do Lusitânia chegou a ver o torpedo nas águas e deu o alarme. Só que não havia como reagir. Precisamente um minuto depois, o torpedo atingiu o transatlântico, um pouco à frente da chaminé da proa, elevou-se um enorme jato d´água. A superestrutura, acima do ponto de impacto, e a ponte foram despedaçadas. O fogo irrompeu e a fumaça envolveu a ponte superior. Os passageiros foram sacudidos por duas explosões, o Lusitânia possuía botes para todos, mas as suas máquinas não foram paradas, pois a sala das caldeiras estava sendo inundada, apenas 8 dos 22 botes de madeira foram lançados.
A razão principal para o naufrágio não foi o torpedo, e sim o fato de que seu comando não fechou as comportas estanques, além do navio carregar armas e munições que provocaram a segunda explosão. As luzes da terceira classe se apagaram devido a um pequeno incêndio nos geradores de energia. O primeiro bote saiu com 45 pessoas, todas da primeira classe. Nesse momento, os passageiros da terceira classe já estavam encurralados, pois a água já começara a invadir o último pavimento da terceira classe, deixando esses passageiros sem saída. Grande parte das pessoas a bordo já havia morrido por afogamento ou por hipotermia. O desespero era geral, as pessoas lutavam por um lugar nos botes. As luzes da segunda classe começaram a piscar, e a água invadiu a proa. Enquanto isso, o navio continuava navegando sem rumo pelo oceano, já que as máquinas não foram desligadas. A popa do navio se inclinou, a água invadiu o deque A e o primeiro pavimento da grande escadaria. O desespero em sair logo do navio fez com que muitos botes saíssem com mais pessoas do que eram capazes de suportar, o peso em excesso fez com que alguns botes virassem antes mesmo de partirem, atirando vários adultos e crianças ao mar. A terceira e a segunda classe adernaram por completo, deixando vários passageiros presos, a água chegou ao convés dos botes e começou a tragar o navio, foi engolido completamente e os passageiros foram lançados na costa de Kinsale, uma cidadezinha irlandesa à beira-mar.
Milagrosamente o capitão William Turner conseguiu saltar, nadou por três horas antes de ser resgatado por uma bote salva-vidas. Para piorar os barcos de resgate demoraram mais de 2 horas para chegar ao local, apesar da proximidade da costa. Na verdade, o Almirantado temia enviar o Juno e submetê-lo, também, ao fogo do U-20. Das 2.000 vidas a bordo, 1.200 morreram por afogamento ou por hipotermia, 128 eram americanos, mais de 700 pessoas sobreviveram ao naufrágio. Grande parte foi tragada para o fundo do oceano, apenas 289 corpos foram recuperados.
Teorias da conspiração começaram a surgir; o povo Americano não tinha qualquer envolvimento com a guerra, o Presidente Wilson havia declarado a sua neutralidade. Sorrateiramente, a administração dos EUA procurava uma desculpa para poder participar. O coronel Edward House foi o principal conselheiro de Woodrow Wilson, um homem com fortes ligações com os banqueiros internacionais. Num registro de uma conversa entre o Coronel House e Sir Edward Grey, Secretário de Estado para os Negócios Estrangeiros da Inglaterra, sobre como levar os EUA para a guerra, Grey perguntou: "o que farão os americanos se os alemães afundarem um transatlântico com americanos a bordo?" House respondeu: "eu creio que uma onda de indignação irá cobrir os EUA e isso, por si só, será suficiente para nos levar à guerra". Assim, a 7 de maio de 1915, tal como na sugestão de Sir Edward Grey, o navio Lusitânia foi deliberadamente enviado para águas controladas pela Alemanha, onde se sabia que estavam os navios de guerra alemães. E, como esperado, os alemães torpedearam o navio explodindo toda munição armazenada nele e matando centenas de pessoas. Para se perceber a deliberada intenção desta estratégia, a embaixada alemã colocou avisos no New York Times, dizendo às pessoas que se embarcassem no Lusitânia, o fariam por sua conta e risco, e se tal navio navegasse da América para a Inglaterra através de zona de guerra, estaria sujeito a ser destruído.
Após as investigações serem concluídas sob o comando de Winston Churchill, o capitão William Turner foi exonerado. Embora o Lusitânia tivesse sido requisitado para ser navio de guerra, era proibido carregar passageiros civis, a Inglaterra usou o dinheiro dos passageiros para financiar a travessia, eles também foram usados para desencorajar os alemães a afundar um navio com civis, os britânicos assumiram o risco pela morte dos passageiros, eles não representavam a carga mais valiosa. Os britânicos juraram que não havia armamentos militares onde o torpedo atingiu o navio, existe a hipótese que tenha acertado os depósitos de carvão gerando uma faísca que ocasionou a segunda explosão, nunca se saberá o que realmente aconteceu. O afundamento do Lusitânia causou uma onda de revolta no povo americano, em pouco tempo o acontecimento provocou grande consternação na opinião pública dos Estados Unidos. Os ingleses usaram a tragédia como pretexto para uma campanha intensa e emocional pelo alistamento militar, o ataque repercutiu no mundo inteiro contra a Alemanha. Depois os alemães tentaram amenizar a tragédia, prometendo indenizar os americanos pelos danos. De nada adiantou. A opinião pública se indignou, a morte daqueles 128 compatriotas queria forçar os Estados Unidos entrar na guerra, mas O Kaiser resolveu suspender a estratégia com os submarinos por tempo indeterminado, isso acalmou os Estados Unidos, mas ninguém sabia até quando os americanos suportariam se manter neutros.
WILLIAM TURNER
CAPITÃO WALTHER SCHWIEGER
SUBMARINO U-20
LUSITÂNIA
U-20
CAPITÃO WILLIAM TURNER
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