Entrevista com o escritor, professor e historiador Max Wagner concedida ao Portal Historiando Ribeirão falando sobre o seu artigo das epidemias que assolaram o mundo, o Brasil e a cidade de Ribeirão Preto/SP.
Historiando Ribeirão - Você poderia fazer suas considerações iniciais sobre o atual momento que estamos vivendo?
Max Wagner - Não é fácil falar sobre o atual momento, mais difícil ainda é compreendê-lo. Entretanto a história e a ciência podem nos dar algumas pistas a seguir. Eu gostaria de começar essa entrevista falando sobre Literatura, e literatura é arte. A arte nos ensina a ver a realidade com mais prazer e de um outro ângulo das ciências histórica e biológica. Eu gosto de fazer um namoro entre a arte e a ciência. Vou citar um trecho do livro “Guerra dos Mundos” do escritor britânico H.G.Wells, grande gênio e um dos maiores escritores de todos os tempos, falaremos também um pouco sobre a obra.
“Isto não é uma guerra - prosseguiu o artilheiro. Nunca foi uma guerra, assim como nunca houve uma guerra entre o homem e as formigas. As formigas constroem cidades, vivem suas vidas, passam por guerras, revoluções, até que os homens decidem que elas tem de sair do caminho, e elas saem. É isso que somos agora.”
Frase do livro A Guerra dos Mundos do escritor britânico H.G.Wells publicado em 1898.
Wells escreveu esse romance para condenar o Imperialismo britânico e criar argumentos contra o Darwinismo Social tão praticado no Século XIX, no qual era sustentado que os mais fortes sempre sobrevivem e que a raça branca era superior por meio da inteligência e da evolução. O Darwinismo Social foi inspirado pelos escritos de Charles Darwin que argumentava que na natureza havia uma guerra pela sobrevivência, mas Darwin nunca sustentou isso em relação aos humanos, visto que ele era contra a escravidão. O escritor H.G.Wells sabia que a maldade humana criou o Darwinismo Social para justificar os seus desejos de conquista e cobiça, ele dizia que tal argumento não se sustentava, visto que os humanos eram seres inteligentes e não irracionais como os animais, e poderiam criar maneiras de sobreviver em harmonia com outros povos e sem precisar explorar ninguém. Entretanto e infelizmente, os homens agem pior do que os animais.
Agora voltemos para o livro Guerra dos Mundos. Os aliens que invadiram a terra no livro de Wells tinham um único objetivo: drenar todo o sangue dos humanos para se alimentar deles... Nada podia impedi-los, e na verdade quase nada impediu. No fim algo inusitado aconteceu, todas as naves e os alienígenas começaram a morrer e serem destruídos. O que aconteceu? Na verdade, os terríveis alienígenas não eram imunes a algumas bactérias terrestres, e foram elas que acabaram com eles. Isso aconteceu várias vezes na história da humanidade, vírus e bactérias já destruíram civilizações inteiras, indígenas e europeus desde que o mundo é mundo. Os Goitacás (Os mais ferozes indígenas das Américas) que nunca foram vencidos por outros indígenas e nem por qualquer outro povo europeu encontraram um inimigo à altura, as bactérias e vírus (varíola) que foi deixada propositalmente em suas terras para que fossem destruídos. Eles foram exterminados entre o século XVII e XVIII, chegaram a possuir mais de 12 mil indivíduos, viveram entre o Espírito Santo e o Rio de Janeiro. A cidade fluminense de Campo dos Goitacás era o reduto principal desses guerreiros. Aconteceu a mesma coisa com os supostamente invencíveis alienígenas de Guerra dos Mundos. A lei da sobrevivência, a lei do mais forte...
Pandemia, de pan, que significa “todo” e demos, povo (povo inteiro). As duas palavras são de origem grega. É a rápida disseminação de uma doença contagiosa que atinge um grande número de pessoas em uma região e pode se espalhar pelo planeta.
Enquanto as bactérias sobrevivem se alimentando e absorvendo as células humanas, os vírus não são classificados dentro do reino dos seres vivos, são macromoléculas que dependem dos humanos para se multiplicar, eles são tão destrutivos que infectam e acabam até com as bactérias. Os vírus causam gripe, sarampo, paralisia infantil, varíola, AIDS – entre muitas outras agressões à saúde, ele é o maior inimigo da humanidade, superando inclusive as bactérias. Sua única razão de existir é a própria reprodução. Ele aproveita-se dos mecanismos das células onde se hospeda, depois as sacrifica. O vírus surgiu antes do homem, vencendo todos os obstáculos naturais à seleção das espécies. Há mais de centro e vinte anos o extraordinário autor H.G.Wells já compreendia o quanto era nocivo e perigoso para os humanos o poder de destruição dos vírus e das bactérias. Nada no mundo e no universo era mais perigoso do que eles. O livro foi adaptado para o cinema em 2005 e protagonizado por Tom Cruise e Dakota Fanning se transformando num grande sucesso.
De acordo com o próprio Wells, a ideia para o livro veio a partir do imperialismo britânico e seu impacto sobre as populações nativas. Os marcianos que invadem a Terra seriam o equivalente aos próprios ingleses em suas predatórias empreitadas imperialistas pelo mundo, principalmente na Tanzânia, usada de exemplo por ele. O autor é tido como um visionário, prevendo, com espantosa precisão, tanques, aviões, a televisão, a bomba atômica, viagens espaciais e até mesmo a Internet. A obra de Wells influenciou uma infinidade de autores e obras, tanto de ficção científica quanto de outros campos e até na própria ciência. Uma dessas adaptações ficou famosa após um episódio inusitado: em 1938, nos Estados Unidos, o livro foi transmitido como drama radiofônico, produzido pelo então ator e futuro diretor Orson Welles, o mesmo de Cidadão Kane.
Os vírus e as bactérias sempre foram uma ameaça para os humanos desde os primórdios até os dias atuais, o Novo Coronavírus é uma prova disso, nem a geração mais evoluída de todos os tempos e com toda a sua tecnologia foi capaz de enfrentar o novo vírus que assola a humanidade, mas não entrem em pânico, ainda não é o fim, vamos acompanhar através da história das pandemias e provar que existe saída para minimizar os impactos do Covid 19, mas isso só será possível se o mundo e principalmente o Brasil conseguir deixar de lado as polarizações e generalizações entre esquerda e direita que na maioria das vezes busca interesses próprios, precisam se unir para vencer o Coronavírus, se conseguirmos diminuir essa guerra ideológica entre esquerda e direita e aumentarmos os meios de segurança, poderemos sair desse pesadelo.
HR - Max Wagner gostaríamos que nos desse um aspecto histórico acerca da história das epidemias, bactérias e vírus, qualquer contribuição neste sentido, será válida?
MW - A Lepra - 2050 a.C (Índia) - A lepra existe há milhares de anos, teria surgido na Índia há mais de 4000 mil anos, é uma das mais antigas epidemias da humanidade junto com a cólera. Há relatos ocorridos há 3500 anos no livro bíblico de Levítico onde é recomendado o isolamento dos leprosos, a palavra vem do grego e significa escama. Lepra ou hanseníase é uma infecção crônica causada por bactérias presentes em lugares insalubres. A lepra é uma doença causada por um germe chamado de Mycobacterium leprae, que atinge principalmente a pele a os nervos. Os sintomas podem ser acompanhados por diminuição da visão, fraqueza e grande manchas na pele. A lepra é transmitida entre pessoas e possivelmente a partir de tatus (animais silvestres comuns no mundo inteiro). A transmissão se dá através da tosse ou pelo contato com o muco nasal de uma pessoa infetada.
A lepra é mais comum em contextos de pobreza. Contrariamente à crença popular, não é uma doença altamente contagiosa, mas já matou milhares de pessoas na história da humanidade. Em 2012, havia em todo o mundo 189.000 casos crônicos de lepra, uma diminuição acentuada em relação aos 5,2 milhões na década de 1980. A maior parte dos novos casos ocorrem em apenas 16 países, dos quais a Índia contabiliza mais de metade. O termo "hanseníase" é dado em homenagem ao médico norueguês Gerhard Armauer Hansen, que descobriu a causa da doença em 1873 para combatê-la. Isolar os portadores da doença em leprosarias, outrora comum em todo o mundo, ainda ocorre na Índia, China, e África. No entanto, a maior parte das leprosarias foi encerrada, dado que a doença não é mais significativamente contagiosa. A doença tem tratamento eficiente com medicamentos baratos e em seis meses o paciente está curado. O diagnóstico é simples e agentes comunitários podem ser treinados para encaminhar casos suspeitos ao sistema de saúde.
A praga de Atenas, 429-326 a.C. - Ainda não há consenso se foi tifo, febre tifoide (causada pela bactéria salmonela entérica), febre hemorrágica viral, varíola, sarampo ou peste bubônica. A doença apresentava sintomas como febre, inflamação dos olhos, pústulas e úlceras no corpo, sede extrema, diarreia, vômito, tosse e espirros. Ela matou cerca de 25% da população ateniense, entre 70 mil e 75 mil pessoas.
Peste de Antonino, 165-180 - A praga Antonina foi uma pandemia que atingiu o Império Romano de 165 a 180 d.C. no reinado de Marco Aurélio que acabou sendo vitimado por ela. Ela teria sido trazida pelas tropas que retornavam de campanhas do Oriente Próximo. Os estudiosos suspeitam que tenha sido varíola ou sarampo. Espalhou-se pela Gália e devastou as legiões romanas ao longo do rio Reno. Estima-se que tenha matado entre 5 e 10 milhões de pessoas.
Peste Negra, 1346-1353 - 50 milhões de mortos (Europa e Ásia) – 1333 a 1351 - A mais famosa pandemia da Europa medieval, foi causada pela bactéria Yersinia pestis que cresce no sangue de ratos. É disseminada pelas pulgas do rato que picam as pessoas e pelo contágio entre seres humanos. A bactéria atinge o sistema linfático e provoca o chamado “bubão”, daí o nome “peste bubônica”. Se a bactéria não atingir a corrente sanguínea e o pulmão, o doente tem alguma chance de se curar. Quando a bactéria atinge a corrente sanguínea, onde se múltipla com rapidez, o doente pode morrer em 14 horas, antes mesmo de aparecer um bubão. Quando o bubão aparece atinge o pulmão, o doente expectora sangue e morre em menos de dois dias. Os fatores que causaram a peste foram a guerra na Criméia e as rotas de comércio. A doença chegou a Constantinopla em maio de 1347 levada por uma frota genovesa. A cidade foi logo contaminada. A frota seguiu depois para Sicília, onde causou outro surto, e daí aportou em Marselha, no sul da França, em novembro de 1347. A doença rapidamente se espalhou pela Europa matando cerca de 20 a 25 milhões de pessoas. Historiadores acreditam que ela matou a metade dos europeus da época.
Epidemia de Cocoliztli, México, 1545-1548 e 1576-1580 - Foi uma epidemia caracterizada por febre alta e sangramento que atingiu a colônia de Nova Espanha, atual México no século XVI. Teve efeitos devastadores na demografia da região, principalmente para os povos nativos. Estudos indicam que ela possa ter sido causada pela salmonela entérica. Pode ser sido também uma febre hemorrágica viral causada pelas condições de vida dos povos indígenas do México na sequência da conquista espanhola. Quer se trate de ratos, galinhas, porcos ou gado, os animais trazidos da Europa eram vetores potenciais de doenças desconhecidas na América. O surto de 1545-1548 matou entre 5 a 15 milhões de pessoas (80% da população) e o de 1576-1580, outras 2,5 milhões de pessoas (50% da população).
Grande Praga de Milão, 1629-1631 - A Grande Praga de Milão foi uma série de surtos de peste bubônica que atingiu as cidades do norte da Itália. Teria sido levada por soldados franceses e alemães após movimentos de tropas associadas à Guerra dos Trinta Anos (1618-1648). Tropas venezianas infectadas com a doença, espalharam o vírus no norte e centro da Itália. O relaxamento das medidas de saúde durante o carnaval, provocou um grande surto em março de 1630, que foi seguido por uma terceira onda na primavera e no verão de 1631. Milão sofreu aproximadamente 60 mil mortes em uma população total de 130 mil. A República de Veneza foi infectada em 1630-1631, vitimando 46 mil pessoas em uma população de 140 mil. A epidemia atingiu, também, Gênova, Bolonha, Módena, Parma, Florença, Roma e Nápoles.
Praga de Marselha, 1720-1722 - Marselha era o principal porto francês de intercâmbio comercial com o Oriente. Foi nele que a Peste Negra entrou novamente trazida pelo navio mercante Grande Santo Antônio vindo de Sidon, no Líbano e depois de passar por Trípoli (Líbia) e Creta. Em dois anos, a peste matou 100 mil pessoas, sendo metade na cidade de Marselha. Foi a última epidemia de peste bubônica na Europa.
Pandemia de cólera, 300 milhões de mortos - séculos XIX e XX - A doença atormentou a humanidade por mais de 3 000 anos. Até poderosos como o faraó egípcio Ramsés II, a rainha Maria II da Inglaterra e o rei Luís XV da França tiveram a temida “bixiga”. Entre 1816 e 1826, a cólera-morbo varreu a Ásia e a Europa. Esta foi a primeira de sete pandemias de cólera durante os séculos XIX e XX, com a sétima originada na Indonésia em 1961. Além disso houve muitos surtos de cólera, como o de 1991-1994 na América do Sul e mais recentemente o de 2016-2020, no Iêmen. A primeira pandemia (1816-1826) começou em Calcutá, na Índia e se espalhou por todo o sudeste da Ásia até o Oriente Médio, leste da África e costa do Mediterrâneo. Matou centenas de milhares de pessoas incluindo soldados e funcionários britânicos, a segunda pandemia de cólera (1829-1851) disseminou-se da Índia para a Ásia.
Acredita-se que a podridão do rio Ganges tenha sido a causadora da doença. Espalhou-se na Rússia durante a invasão de Moscou em 1830. Os soldados russos levaram a doença para a Polônia em fevereiro de 1831. Um relatório apontou 250 mil casos de cólera e 100 mil mortes na Rússia. A pandemia chegou à Grã-Bretanha em dezembro de 1831. Em Londres, a doença matou 6.536 vítimas; em Paris, 20.000 morreram (de uma população de 650.000) chegando a 100 mil mortes em toda a França). Em 1832, a epidemia chegou ao Canadá (Quebec, Ontário e Nova Escócia) e aos Estados Unidos (Nova York e Detroit). A terceira pandemia de cólera (1852-1860) fez praticamente o mesmo percurso matando 1 milhão de pessoas só na Rússia. Os médicos acreditam que a cólera é uma doença exclusivamente humana, espalhada por diversos meios de viagem e transmitida através de águas mornas e alimentos contaminados por rios e águas com fezes.
A falta de tratamento das fezes humanas e da água potável facilitam muito a sua disseminação. No final do século, entre 1879-1883, ocorreram grandes avanços científicos para o tratamento da cólera: a primeira imunização por Pasteur, o desenvolvimento da primeira vacina contra a cólera e a identificação da bactéria Vibrio cholerae por Filippo Pacini e Robert Koch. Contaminação – O Orthopoxvírus variolae era transmitido de pessoa para pessoa, geralmente por meio das vias respiratórias. Sintomas – Febre, seguida de erupções na garganta, na boca e no rosto. Posteriormente, pústulas que podiam deixar cicatrizes no corpo. Tratamento – Erradicada do planeta desde 1980, após campanha de vacinação em massa.
Tuberculose - 1 bilhão de mortos – 1850 a 1950 - Sinais da doença foram encontrados em esqueletos de 7 000 anos atrás. O combate foi acelerado em 1882, depois da identificação do bacilo de Koch, causador da tuberculose. Nas últimas décadas ela foi combatida com vacinas em massa e foi erradicada.
TIFO - 3 milhões de mortos (Europa Oriental e Rússia) – 1918 a 1922 - A doença é causada pelas bactérias do gênero Rickettsia. Como a miséria apresenta as condições ideais para a proliferação, o tifo está ligado a países do Terceiro Mundo, campos de refugiados, entre outros.
Gripe Espanhola (1918-1920) – 100 milhões de mortos. Diferentes hipóteses foram levantadas sobre a origem da Espanhola, uma delas indica Kansas ou Boston, nos Estados Unidos, e bases militares britânicas e francesas para onde foram convocados 96 mil trabalhadores chineses. As condições de guerra, como a desnutrição, acampamentos e hospitais superlotados e a falta de higiene contribuíram para a superinfecção. Os sistemas de transporte facilitaram a disseminação da doença por soldados, marinheiros e viajantes civis. Uma das complicações da gripe era a hemorragia das mucosas, especialmente do nariz, ouvido, estômago e intestino. A maioria das mortes, contudo, ocorreu por pneumonia bacteriana, uma infecção secundária comum associada à gripe. Cientistas acreditam que morcegos contaminados deixaram fezes onde porcos comiam, a partir dos suínos os humanos teriam se contaminado. Hoje sabe-se que a Gripe Suína H1N1 é uma evolução da Gripe Espanhola. Descrita em abril de 2009, o primeiro registro foi no México, o vírus parecia ser uma nova cepa da Gripe Espanhola, resultado de uma combinação tripla de vírus de aves, suínos e gripe humana. No total, 187 países registraram casos. Estima-se que contraíram a doença cerca de 700 milhões a 1,4 bilhões de pessoas, 20% da população mundial. Deixou milhares de mortos pelo mundo, só no Brasil foram 1.528 mortes. O fim da pandemia foi decretado pela OMS em agosto de 2010.
SARAMPO - 6 milhões de mortos por ano – Até 1963 - Era uma das causas principais de mortalidade infantil até a descoberta da primeira vacina, em 1963. Com o passar dos anos, a vacina foi aperfeiçoada, e a doença foi erradicada em vários países.
Gripe Asiática vírus H2N2 - (1957) – 1,1 milhão de mortos – Surgiu primeiramente em Cingapura.
Gripe de Hong Kong vírus H3N2 (1968) – 500 mil infectados somente em Hong Kong, espalhou-se rapidamente pela Ásia e pela Europa, soldados americanos que lutavam no Vietnã contraíram o vírus e deixaram milhares de mortes nos E.U.A. Matou 1 milhão de pessoas.
HIV/AIDS (Pico - anos 80 e 90) 75 milhões de infectados, deixou 32 milhões de mortos. Registrada pela primeira vez nos Estados Unidos da América. Embora exista tratamento, ainda continua matando muito.
Coronavírus SARS, 2002-2004 - O surto de SARS (sigla em inglês de síndrome respiratória aguda) de 2002-2004 teve origem na província de Guangdong, na China, na fronteira com Hong Kong, em novembro de 2002. Um agricultor internado em Guangzhou, infectou 30 enfermeiros e médicos. Inicialmente, o governo chinês desencorajou a imprensa de noticiar a SARS, atrasou a comunicação à Organização Mundial de Saúde, e nem forneceu informações aos chineses. Diante da iminência da catástrofe mundial, a OMS emitiu ordens severas de isolamento, o vírus espalhou-se rapidamente por Hong Kong, Vietnã, Cingapura e Canadá. A SARS é causada pelo coronavírus SARS-CoV, identificado pelo médico italiano Carlo Urbani, da organização Médicos Sem Fronteira. Ele contraiu a doença vindo a falecer em 2003, após dezenove dias de isolamento. A pandemia atingiu além da China, Hong Kong, Taiwan, Cingapura, Vietnã, Filipinas, Canadá, Estados Unidos e, com menor incidência Alemanha, França, Suécia, Reino Unido, Itália, Suíça, Austrália e Nova Zelândia deixando milhares de mortes. Graças aos atos de contingência total e isolamento da OMS o vírus foi contido.
Epidemia de Ebola, 2007 e 2013-2016 - A doença do vírus Ebola, também conhecida como febre hemorrágica do Ebola. Acredita-se que os morcegos sejam os portadores, capaz de espalhar o vírus. Ele se propaga através do contato direto com fluídos corporais como saliva, excremento e sangue de humanos infectados ou outros animais. Os sintomas começam entre dois dias e três semanas após a contaminação: febre, dor de garganta, dor muscular, dores de cabeça, vômitos, diarreia, erupção cutânea, sangramento interno e externo. A doença tem um alto risco de morte, matando em média 50% dos infectados e, ocorre entre 6 a 16 dias após o aparecimento dos sintomas. A doença foi identificada pela primeira vez em 1976, em dois surtos simultâneos: um em Nzara, cidade ao sul do Sudão, e outro em Yambuku (República Democrática do Congo), uma vila perto do rio Ebola, do qual a doença leva o nome. Os surtos de Ebola ocorrem intermitentemente nas regiões tropicais da África Subsaariana. Entre 1976 e 2013, a Organização Mundial da Saúde registrou 24 surtos envolvendo 2.387 casos com 1.590 mortes. O maior surto até o momento foi a epidemia da África Ocidental, entre dezembro de 2013 e janeiro de 2016, com 28.646 casos e 11.323 óbitos. Novos surtos ocorreram em 2016, 2017, 2018 e 2019 – ano em que a Organização Mundial da Saúde declarou o surto de Ebola no Congo uma emergência mundial de saúde.
OBS: Todas essas epidemias e pandemias citadas se desenvolveram por causa de condições precárias de higiene, lixo em abundância, quase nenhum saneamento básico, má alimentação e contato com animais silvestres: principalmente ratos, morcegos, macacos, etc.
HR - Como foram as epidemias no Brasil?
MW - As epidemias no Brasil surgiram com a vinda dos portugueses, tendo como a primeira epidemia a varíola em 1563, afetando principalmente os indígenas por nunca terem tido contato com a doença e usarem pertences pessoais e roupas dos europeus contaminados. Os europeus viram essa epidemia e o desconhecimento dos indígenas como uma oportunidade de se apossar de suas terras, milhões foram mortos. Os europeus deixavam roupas contaminadas em trilhas para que os indígenas as encontrassem e usassem. Sendo uma doença viral, a varíola traz consigo os sintomas de uma gripe comum, evoluindo para protuberâncias inflamadas na pele, levando ao óbito. O primeiro relato de tuberculose no Brasil foi em 1549, trazida pelo padre enfermo Manuel da Nóbrega. Em 1555 a doença se alastrou, infectando por volta de 1 em cada 150 habitantes.
Com o crescimento do Brasil, portos foram instalados nos litorais brasileiros, principalmente para exportação de Pau-Brasil, açucar, ouro, café e tráfico de escravos. Com isto novas epidemias surgiram com mais frequência. A febre amarela foi introduzida no Brasil com a vinda dos navios negreiros, causando um surto da doença na cidade de Olinda e se alastrando para o interior do estado de Pernambuco, chegando a Salvador em 1685. Mais tarde, em 1849, houve uma epidemia originária de um navio vindo de New Orleans e Havana, contagiando moradores da cidade de Salvador e do Rio de Janeiro e se alastrando por todo o litoral Brasileiro deixando 15 mil mortos. Em fevereiro de 1850 a febre amarela se apossara da cidade e já havia se disseminado pelas praias dos Mineiros e do Peixe, Prainha, Saúde e além. Segundo estimativas, atingiu 90.658 dos 266 mil habitantes do Rio de Janeiro, causando 4.160 mortes, de acordo com os dados oficiais. Foi então constituída a Junta de Higiene Pública, que em 1886 transformou-se em Inspetoria Geral de Higiene e Inspetoria Geral de Saúde dos Portos.
O aumento de óbitos aconteceu por causa do negacionismo. Para não produzir pânico, as autoridades e médicos subornados emitiram relatos de que não era nada grave, a imprensa também calou médicos que tentaram alertar a população. O Imperador Dom Pedro II e a nobreza se esconderam em Petrópolis/RJ, enquanto os pobres morriam aos milhares. A febre amarela foi o maior problema de saúde pública do país desde meados do século 19 até quase meados do século 20. O tráfico estava proibido oficialmente desde 1831. O Tráfico clandestino de escravos foi erradicado somente em 1850, atribuí-se aos navios negreiros o contágio e a disseminação da febre amarela, esse foi um dos principais motivos que o Governo decidiu acabar de vez com a escravidão clandestina no Brasil. A partir de 1850 espalhou-se por Bahia, Rio de Janeiro, outras partes do país, chegando às lavouras de café do sudeste em 1889, atingiu o Estado de São Paulo e São Simão/SP em 1893, onde o médico Emílio Ribas teria descoberto a origem da doença e com quem Oswaldo Cruz aprendeu a erradicar no Rio de Janeiro, eliminando o mosquito transmissor. Para erradicar as epidemias, no início do século XX o Presidente Rodrigues Alves realizou uma limpeza no Rio de Janeiro reconstruindo a cidade e derrubando todos os barracos e casas das regiões pobres, expulsando a população para as favelas, aumentando ainda mais a população nesses lugares extremamente pobres.
A peste negra ou peste bubônica surgiu no porto de Santos no estado de São Paulo e em apenas 3 meses chegou ao Rio de Janeiro (Capital Federal na época). Portugal trouxe a peste através do Porto de Santos. Era tarde demais para conter a disseminação da peste, que de fato chegou ao Rio de Janeiro no verão de 1900 e se espalhou por outras cidades como São Luís, Porto Alegre e Recife, a estratégia se voltou para as medidas de enfrentamento. O principal objetivo era trazer da Europa o soro para o tratamento dos doentes. Mesmo com a produção nacional de soro, só no primeiro ano de epidemia a capital federal registrou cerca de 500 mortes. Em 1903, com o número de casos aumentando, Oswaldo Cruz foi nomeado diretor da Diretoria Geral de Saúde Pública pelo novo presidente Rodrigues Alves, que tinha como principal meta a modernização do Rio de Janeiro. Na capital paulista, medida parecida foi aplicada, com o valor de 300 réis por rato abatido. Diferentemente do Rio de Janeiro, cabia à população a caça e a venda dos ratos ao desinfectório central. Em 1904, porém, a estratégia foi reformulada, e os animais passaram a ser exterminados por envenenamento com gases tóxicos. O problema é que o estoque estava muito baixo, por causa dos surtos em outras cidades, como no próprio Porto e na Ásia, diz a historiadora Dilene Raimundo do Nascimento, da Casa Oswaldo Cruz. Oswaldo Cruz se propôs então a criar institutos soroterápicos para produzir o soro no Brasil. A epidemia de peste bubônica no Brasil perdurou até 1907, mas o último registro em seres humanos só ocorreu em 2005 — e ela continua circulando entre os roedores.
De 1918 a 1920, o Brasil enfrentou a gripe espanhola que deixou 35 mil mortos no país, inclusive o Presidente eleito Rodrigues Alves. Ações de contenção e combate à doença foram feitos, mais a população não se preocupou muito, principalmente por causa de falsas notícias. Foi incentivado o uso de máscaras, isolamento e assepsia, mas muitos não ouviram os alertas dos especialistas, houve até uma liga anti-máscara e por causa disso milhares de pessoas morreram. A doença foi trazida por navios mercantes, de passageiros e soldados que voltavam da Primeira Guerra Mundial.
Os primeiros relatos de epidemias de dengue no Brasil se dão em 1986, nas regiões Nordeste e Sudeste, se agravando em 1990 com a introdução do segundo sorotipo (DEN-2) e, mais tardar, em 2001 com a introdução do terceiro sorotipo (DEN-3). Atualmente a dengue é uma grande epidemia enfrentada pela população brasileira, em 2015 chegando a 1.649.008 casos da doença, com um novo caso de dengue a cada 12 segundos. Além da dengue, o Brasil enfrenta epidemia de Zika vírus, que foi introduzida na Copa do Mundo de 2014.
Na atual pandemia do novo coronavírus, pesquisadores da instituição paulista estão desenvolvendo um composto de anticorpos para combater a covid-19 e comandam a busca por uma vacina, enquanto a Fiocruz integra uma coalizão mundial para acelerar as pesquisas sobre o vírus. Um dos laboratórios cariocas foi também nomeado pela Organização Mundial da Saúde (OMS) referência para covid-19 nas Américas. "Não é exagero dizer que se trata das instituições de ciência e pesquisa científica mais respeitadas no Brasil e no mundo"
HR - Como foram as epidemias em Ribeirão Preto/SP, principalmente a Gripe Espanhola?
MW - Emílio Ribas (Fundador do Instituto Butantan) identificou em São Simão/SP que o mosquito transmissor da febre amarela era o Aedes aegypti. A doença dizimou metade da população de São Simão que era de 4.500 habitantes, era a cidade com maior índice de mortes no Brasil. Entre 1896 e 1903, historiadores estimam 30 mil mortes na região de Ribeirão Preto. Hoje ainda temos a febre amarela rural e a nova febre amarela, a urbana (Dengue) - ambas são transmitidas pelo mosquito Aedes aegypti. A partir das experiências feitas por Emílio Ribas em São Simão, o médico Oswaldo Cruz conseguiu acabar com a epidemia de febre amarela no Rio de Janeiro, em 1904, um ano depois que a doença já havia sido extinta em São Simão, por meio do combate ao aedes aegypti .
Em Ribeirão Preto também houve muitas mortes por febre amarela, mas houve um prefeito e médico de Ribeirão Preto, considerado um herói que combateu com eficácia não só a febre amarela, mas também a gripe espanhola. Joaquim Macedo Bittencourt foi eleito prefeito de Ribeirão Preto para o período de 1908 a 1911, tendo sido reeleito de 1914 a 1920, exercendo o mandato por 10 anos. Dentre as suas obras, destaca-se a modernização do bairro Campos Elíseos, o combate às epidemias através da higienização e do saneamento básico, calçamento da Avenida da Saudade, a criação do Posto Zootécnico, a criação do Corpo de Bombeiros, a construção do Palácio do Rio Branco (Sede da Prefeitura) e a transformação de Ribeirão Preto na Petit Paris. Nos anos difíceis da guerra Bittencourt enfrentou os dois maiores desafios: a geada de 1918 que quase acabou com as plantações de café, e em 1918 a gripe espanhola que atingiria Ribeirão Preto com toda a força, deixando muitos mortos. O prefeito acabou contraindo a gripe também por tratar dos doentes, mas conseguiu recuperar-se.
Graças aos programas de higienização, saneamento e modernização do prefeito Bittencourt, a cidade de Ribeirão Preto diminuiu os riscos de contágio de febre amarela a partir de 1908 e da Gripe Espanhola em 1918. Em 23 de outubro de 1918, foi constatado o primeiro caso de gripe espanhola em Ribeirão Preto. Foi encontrado no Bosque Municipal um homem muito doente. Ele não morava em Ribeirão Preto e chegara de São Paulo. Como a epidemia de gripe espanhola já tinha irrompido no Rio de Janeiro, São Paulo e até em São Simão, o homem foi internado no Hospital de Isolamento Lazareto. Ainda para enfrentar a epidemia, a Câmara Municipal autorizou a instalação de um hospital no prédio do Cassino da Cia. Antárctica Paulista, com 50 leitos (o prédio estava localizado na esquina da rua Amador Bueno com Américo Brasiliense).
Dado o grande número de doentes, em seguida, foi instalado um hospital no antigo prédio do Colégio Rio Branco, com capacidade para 150 doentes. Em 1918 o Hospital de Isolamento ou Lazareto passou também a receber outros doentes vitimados pela gripe, o prédio estava localizado do Núcleo Colonial Antônio Prado (hoje Ipiranga), nas atuais ruas Javari, Porto Seguro, Carolina Maria de Jesus e Paraguaçu. O Hospital de Isolamento ou Lazareto teve inicialmente o tratamento de leprosos. Havia recomendações especiais quanto a hospitais de isolamento: a planta apresentava a forma de cruz. O bloco principal tinha varanda destinada aos leitos e blocos secundários (transversais) reservados aos serviços.
Ele era isolado do chão por meio de porões não habitáveis com a finalidade de torná-lo mais salubre. Trabalharam nos hospitais no período da gripe: Philippe Achê, Irmãs Carolina, Modesta e Thereza (da Santa Casa), Lygia Furquim, Zoé Versiani (Cruz Vermelha), Dr. Sebastião Fernandes Palma, entre outros, sob a coordenação do prefeito Joaquim Macedo Bittencourt, médico formado pela Faculdade de Medicina de Salvador. Foi organizado um serviço de assistência domiciliar aos doentes que permaneceram em suas casas e uma comissão para fornecer medicamentos e gêneros alimentícios. Foram atendidos nos hospitais mantidos pela Câmara: 114 gripados, dos quais 10 faleceram. Durante o mês de novembro de 1918 o próprio Prefeito Macedo Bittencourt contraiu a gripe, obrigando-o a ficar em licença médica. O número oficial de mortos foi de 211 pessoas, mas provavelmente morreram mais. No ano de 1918 a mortalidade por moléstias em Ribeirão Preto foi: Febre tifoide e infecções 13, Paludismo (malária) 12, Sarampo 8, Coqueluche 7, Difteria 2, Gripe 211, Disenterias 11, Lepra 1, Tétano 41, Tuberculose 40, Sífilis 7. O hospital de Isolamento Lazareto funcionou até 1943. Já desativado desde a época do Estado Novo (1937-45), o prédio foi demolido em 1964.
Hospital de Isolamento Lazareto
A maioria que perdeu a vida eram pessoas pobres, os ricos se isolaram em suas fazendas de café, essa medida foi eficaz para eles. A Beneficência Portuguesa e a Santa Casa também receberam doentes. Na região de Ribeirão o número de mortes também foi alto, visto que há cem anos a população era bem menor. Em 1920, Ribeirão Preto tinha pouco mais de 60 mil moradores. Se uma gripe como aquela atingisse a cidade hoje as consequências seriam catastróficas.
Vera Lopes, irmã do Dr. Luiz Leite Lopes (nome do Aeroporto de Ribeirão Preto), faleceu na epidemia de gripe espanhola, em 1918. Maria Eugênia, a filha de Iria Junqueira (A Rainha do Café) numa das viagens a Paris havia se apaixonado por um francês. Eles se casaram na França, ao descobrir o mau caráter do esposo, ela o abandou e retornou para o Brasil, onde acabou tendo um destino horrível, ela morreu de gripe espanhola, na epidemia de 1919. O marido francês, identificado pelos jornais como Alphonse Defforge, ao ficar sabendo da morte da mulher, teria vindo ao Brasil atrás de sua parte na herança. E chegando aqui, teria sido torturado e morto sob ordens da sogra (Iria Junqueira) se transformando num dos maiores escândalos da época.
A Gripe Espanhola na Europa dizimou populações inteiras e chegou às Américas devido aos soldados estadunidenses que teriam tido contato com trabalhadores chineses nos campos de treinamento militar. Terminada a Primeira Guerra Mundial a epidemia transmitida pelo perigoso "mixovirus influenza" já estava no Brasil não tardando a chegar a São Simão (onde as condições sanitárias eram as piores possíveis). Desta vez, antes da chegada da doença, as autoridades simonenses se uniram para enfrentá-la e não escondê-la como tinham absurdamente feito outrora com a febre amarela. Desde o coletor federal ao delegado de polícia passando por diversas autoridades; todos fizeram o que puderam para que não houvesse nova tragédia na cidade. Uma enfermaria foi instalada no Grupo Escolar porque na última epidemia de febre amarela quase todas as crianças de São Simão haviam morrido. A Câmara de São Simão despendeu enormes quantias também para Serra Azul. Morreram aproximadamente 25 pessoas. Governar São Simão em fins de 1918 e início de 1919 foi muito difícil por causa dos três "G" que atormentaram a todos naqueles meses em São Simão: ”Gripe Espanhola, Geada que acabou com as plantações (o Brasil daquela época era essencialmente rural) e Gafanhotos.
HR - Por que você decidiu escrever um livro sobre a 1º Guerra Mundial envolvendo Ribeirão Preto ?
MW - Por três dois motivos: O meu pai era vendedor de livros, na sala onde eu dormia ele tinha uma estante enorme cheia de clássicos, aos sete anos li “O Pequeno Príncipe” de Saint Exupéry, depois descobri que o autor foi piloto da Segunda Guerra Mundial, daí surgiu minha paixão por história militar, ela foi reforçada quando eu tinha oito anos de idade, o meu avô e o meu pai que são descendentes de italianos começaram a contar a história de Ambrósio Zhumello, irmão da minha bisavó que morava em Ribeirão Preto, que em 1915 voltou para a Itália para lutar no exército italiano contra austríacos e alemães durante a Primeira Guerra Mundial. Ele foi ferido por um soldado alemão, mas sobreviveu à guerra e voltou para o Brasil, mas mal sabia ele que alguns anos mais tarde morreria de maleita (malária) nas margens do Rio Pardo onde morava, caçava e pescava. A malária é transmitida por meio da picada de fêmeas do mosquito Anopheles, hoje essa doença mata 660 mil pessoas por ano no mundo. E o terceiro motivo para escrever o livro Ribeirão Preto e a Primeira Guerra Mundial que foi publicado em 2018 foi uma outra publicação, em 2016 eu publiquei “A Última Poesia – Do Orgulho Nasce a Guerra” o único romance sobre a Primeira Guerra publicado por um brasileiro, a obra foi distribuída no Brasil e Portugal. A última página do romance traz um relato do início da Gripe Espanhola. Atualmente estou trabalhando na continuação do romance, se chamará “O Silêncio das Armas” e fala sobre o terror que foi a gripe espanhola que dizimou 100 milhões de pessoas e também sobre a ascensão do nazismo. O livro deverá ser publicado em 2021.
HR - Que ligação esse tema tem com a Gripe Espanhola? Você disse que chegou a escrever sobre isso, pode me descrever melhor?
MW - O meu livro Ribeirão Preto e a Primeira Guerra Mundial tem grande ligação com a Gripe Espanhola, ele retrata como foi a pandemia no mundo. No Brasil foram registradas 35 mil mortes, especialistas dizem que pode ter chegado a 100 mil, os pobres não entravam na conta. As personalidades mais conhecidas que morreram de Espanhola no Brasil foram: o Presidente eleito Rodrigues Alves, a educadora Anália Franco, o poeta Leandro Gomes de Barros e o político Telêmaco Augusto Borba. O vírus chegou ao Brasil através de navios que estavam vindo da Europa, a maioria trazia brasileiros que voltavam da guerra. Só na África, onde a Marinha Brasileira patrulhava, morreram 160 marinheiros de Gripe Espanhola. Alguns oficiais brasileiros e médicos militares que lutavam no front francês também ficaram doentes com a gripe.
HR - Em entrevista para o site da Revista Revide você contou a saga de 100 moradores de Ribeirão Preto que foram lutar na guerra pela Itália. Há algum relato de alguém que tenha sido atingido pela gripe ou qualquer outra pandemia ou epidemia? Tanto se você passou por momentos como o de hoje, parecidos com o Covid 19, quanto se recorda deles por meio de arquivos históricos?
MW - Sim, foram aproximadamente 100 italianos ou descendentes que moravam em Ribeirão Preto. Em 1915 atenderem ao chamado do Rei Vitor Emanuel III para que retornassem para sua pátria mãe e lutassem no Exército contra os Impérios Alemão e Austríaco. Deixaram Ribeirão de trem via Estação Mogiana, depois embarcaram em navios em Santos com destino à Itália. Sei que 10 deles foram homenageados pela Sociedade Dante Alighieri, os nomes desses heróis estão registrados numa grande placa de mármore na sede da Dante. Esses homens provavelmente faziam parte da Sociedade Italiana na época, daí a homenagem. Não conheço relatos dos soldados italianos que deixaram Ribeirão e contraíram a Espanhola. O primeiro caso conhecido de epidemia em Ribeirão Preto foi de febre amarela em 1903 (centenas de mortos) somente na região de São Simão morreram milhares de pessoas, as cidades ficaram vazias, a febre amarela é transmitida pelo mesmo mosquito da dengue (Aedes aegypti). Depois vieram a gripe espanhola - 1919 (211 mortos), HIV – Anos 80 (Mais de 3 mil mortos em menos de 40 anos), Dengue - 1990 (milhares de contaminados e várias mortes até o momento) e agora o Coronavírus com mais de 300 mortes.
A experiência que vivi de uma epidemia, foi em 2012, quando fui contaminado com dengue, algo terrível que assola a nossa cidade, transmitido pelo mosquito Aedes aegypti. Foi uma experiência bem traumática, eu trabalhava como autônomo, fiquei 15 dias de cama; manchas pela corpo, muita dor, febre, dor de cabeça, garganta inflamada e coriza. Eu acho que nunca fiquei tão doente como daquela vez. Depois de alguns dias o meu corpo foi se recuperando e venci a doença, nunca mais quero passar por aquilo, sei que a doença tem matado muitas pessoas. Um parente bem próximo contraiu o Covid-19, ficou na UTI e quase morreu, no fim acabou sobrevivendo porque foi tratado num hospital privado com Cloroquina e Invermectina. Tenho vários amigos e vizinhos que contraíram o Covid-19. Conheço também relatos de indivíduos que foram contaminados com o vírus HIV que matou milhões nos anos 80 e 90. Os depoimentos são bem dramáticos e traumáticos, hoje eles vivem a base de coquetéis, na medida do possível estão bem. Sei que a doença deixou centenas de mortos em Ribeirão Preto em pouco mais de 30 anos. A cidade tem um dos maiores índices por mortes no Estado de São Paulo, somente entre os anos de 1996 a 2014 morreram 1.896 pessoas em Ribeirão Preto.
HR - Sabemos de grandes momentos da história que ficaram marcados pela Peste Negra, a própria Gripe Espanhola e, certamente, mesmo não tendo vivido esses períodos, aprendemos com isso. O que o momento atual nos ensina?
MW - Sim, aprendemos muito, desde processos de higienização e saneamento básico, o que não ocorria na Europa quando a peste negra dizimou metade da população europeia. As cidades não possuíam saneamento básico, eram verdadeiros lixões e esgotos a céu aberto. Na época os europeus não sabiam que as pulgas dos ratos causavam a peste negra, entretanto tomaram algumas providências de isolamento e higienização, essas medidas ajudaram um pouco, estavam desesperados e usaram todos os meios possíveis para acabar com a peste. Com o tempo os ratos diminuíram e consequentemente a peste também. Segundo alguns especialistas, o isolamento dos doentes e um pouco de limpeza nas cidades não foi a grande arma contra a peste, porque quando adotaram essas medidas ela já havia se espalhado e matado a quantidade suficiente da disseminação da doença. A peste já havia passado pelo pico e estava no fim. Somente uma em cada dez pessoas contaminadas conseguiu sobreviver, aqueles que não morreram, provavelmente possuíam anticorpos fortes o suficientes para enfrentar o vírus. Entretanto, se a limpeza das cidades e o isolamento tivesse ocorrido no início, o número de mortes teria sido bem menor.
HR - Como a história pode nos ensinar a lidar com pandemias?
MW - A história tem muito a nos ensinar, mas quatro medidas são essenciais e também são as maiores armas contra as epidemias: higiene, saneamento básico, alimentação saudável, e isolamento. Foram essas armas que venceram ou pelo menos diminuíram o risco de contágios. No filme “Guerra dos Mundos” do grande escritor britânico H.G. Wells, uma ficção científica maravilhosa que virou filme e teve um remake estrelado por Tom Cruise, o planeta terra é dominado por uma raça alienígena que quase exterminou os humanos, mas existia algo muito pior que os aliens ignoraram, o contato com as bactérias e vírus que existem na terra. No fim quem venceu os alienígenas foi uma arma biológica natural (Os vírus e bactérias), embora seja uma ficção, há 123 anos Wells já alertava para o perigo desses inimigos invisíveis, nada no universo era mais mortal do que eles. Insisto que as grandes lições que aprendemos sobre as pandemias na história são: reforçar a higiene, o saneamento básico, evitar contato com animais selvagens, alimentação saudável e o isolamento quando a doença for detectada.
Sei que existem no Brasil muitas manifestações contrárias ao isolamento total por causa da preocupação econômica, sim sentiremos um enorme impacto econômico, muitos ficarão desempregados e algumas empresas quebrarão, mas antes isso do que um índice enorme de mortos, antes a quebradeira do que a morte. Isolamento já! É a única arma que restou para vencermos essa doença. Sei que existem muitos setores que infelizmente precisam ir para a guerra trabalhar: agentes de saúde, agentes de segurança pública, entregadores, limpeza e vigilância, alguns setores de prestação de serviços, comércio e indústria, mas quem pode fica em casa! Crianças, idosos, artistas, professores, estudantes, funcionários públicos, grandes comerciantes e empresários fiquem em casa! Enquanto tivermos saúde para continuar daremos a volta por cima e recuperaremos a economia. Espero que o mundo possa ter aprendido mais uma vez que essas armas são as nossas únicas defesas contra vírus e bactérias. O escritor H.G.Wells acertadamente previu que esses seres invisíveis são os nossos maiores inimigos do universo, já conhecemos as armas, cabe a nós se colocaremos essas armas em prática ou não. O Brasil também precisa deixar de lado essa guerra civil ideológica entre esquerda e direita, se não houver união, as consequências dessa pandemia no Brasil serão ainda piores.
Arte do ilustrador Nando Motta
HR - Quais as causas e o que fazer?
MW - A responsabilidade do novo Coronavírus é do Partido Comunista Chinês que escondeu a doença por dois meses, a primeira pessoa infectada foi em novembro de 2019 na cidade de Wuhan (Perto do famoso mercado de carnes silvestres). Médicos que tentaram avisar as autoridades foram presos, o mais famoso deles foi Li Wenliang que acabou morrendo com o vírus. A irresponsabilidade do Governo Comunista Chinês foi ainda maior ao permitir que 400 milhões de chineses viajassem pelo mundo durante o Ano Novo Chinês, essa irresponsabilidade levou o COVID - 19 para o mundo. Em 2002 durante a epidemia do SARS, o Governo Chinês agiu da mesma forma, tentando calar aqueles que ousassem falar sobre a doença. Houve também negligência do Governo Brasileiro ao permitir o Carnaval, disseminando ainda mais a doença. No início, o Presidente da República Jair Bolsonaro também colaborou para a disseminação do vírus ao dar péssimos exemplos, um deles foi a falta de isolamento, entre outros. O grande problema são as polarizações tanto de esquerda quanto de direita, houve negligência de Jair Bolsonaro em relação a não apoiar o isolamento, mas alguns membros da esquerda se aproveitaram disso e atacaram qualquer posicionamento do presidente, inclusive em relação ao Cloroquina, embora ela não deva ser usada como único remédio contra o Coronavírus, não deve ser totalmente descartada, quase todos os hospitais privados tem usado a cloroquina e os índices de mortes são baixos em relação aos hospitais públicos que praticamente não usam a cloroquina. Repito! ela não é o grande milagre contra o coronavírus, mas não deve ser descartada por causa dos discursos do presidente.
O cientista francês Luc Montagnier, Nobel de Medicina argumenta que o Covid -19 foi um acidente de Laboratório que aconteceu em Wuhan na China. Os cientistas chineses quando estavam criando uma coquetel mais efetivo contra a Aids teriam usado o Sars de 2002 que acidentalmente acabou virando uma mutação para o Covid-19. O especialista Simon Wain Hobson, virologista molecular do Instituto Pasteur, em Paris é contrário à tese de Montagnier, e diz ter provas disso, portanto, segundo ele o Novo Coronavírus surgiu por causa do contato de chineses com as carnes de animais silvestres no Mercado de Wuhan. O que realmente se sabe é que algumas vacinas já foram desenvolvidas, inclusive na China e Inglaterra e estão começando os primeiros testes contra o Novo Coronavírus. Tomara que em breve Deus possa nos livrar dessa tragédia mundial.
Referências Bibliográficas pesquisadas por Max Wagner.
A Guerra dos Mundos - 1983 - Edição Brasileira - H. G. Wells.
Ribeirão Preto e a Primeira Guerra Mundial - 2018 - Max Wagner.
https://ensinarhistoriajoelza.com.br/ - Joelza Ester Domingues
1918 - A Gripe Espanhola: Os Dias Malditos - 2017 - João Paulo Martino.
A Grande Gripe. A História Da Gripe Espanhola, A Pandemia Mais Mortal De Todos Os Tempos – 2020 - John M. Barry.
A história da humanidade contada pelos vírus – 2008 - Stefan Cunha Ujvari.
Pandemias: A humanidade em risco – 2011 - Stefan Cunha Ujvari.
Doenças que mudaram a história – 2018 - Guido Carlos Levi.
Doenças e curas: o Brasil nos primeiros séculos – 2010 - Cristina Gurgel.
São Simão – A História Contada Pelo Povo - 2006 - Chiavenato, Júlio José – Funpec.
Epidemias no Brasil. Uma Abordagem Biológica e Social– 2013 - Rodolpho Telarolli Junior.
A Grande Mortandade – 2011- John Kelly.
A História e suas Epidemias – 2003 - Stevan Cunha Ujvari.
Max Wagner é escritor, historiador, editor e Professor de História.
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