21 de novembro de 1916 - Há cem anos o irmão do navio Titanic também viria a afundar.
Trecho do romance "Do Orgulho Nasce a Guerra" em que o Britannic naufragou.
História completa do Britannic - Por Max Wagner
Trecho do romance "Do Orgulho Nasce a Guerra" em que o Britannic naufragou.
No dia 21 de novembro, o Britannic, considerado maior navio do mundo afundou. O naufrágio foi causado por uma mina submarina colocada pelo submarino U-73. No início da guerra o navio foi requisitado para transporte de feridos. Ele foi pintado de branco com uma faixa verde e seis cruzes vermelhas identificando-o como navio-hospital, as quatro chaminés e os mastros eram amarelos. Foi usado nos Dardanelos para retirar os feridos da região. No dia do naufrágio o Britannic viajava para o porto Mudros na Grécia. Graças aos sistemas de segurança que foram aperfeiçoados por causa do naufrágio do Titanic, apenas 30 passageiros dos 1.066 perderam a vida. A maioria destas
mortes ocorreu quando as hélices emergiram das águas e sugaram alguns barcos salva-vidas.
O navio afundou em apenas 57 minutos, mas uma simples explosão não levaria o maior navio do mundo ao fundo. O que realmente fez o navio naufragar foi uma série de erros. O Britannic com sua estrutura melhorada em relação ao Olympic e o Titanic, poderia navegar com até seis compartimentos inundados. A mina deu origem a um rombo que inundou somente dois compartimentos; o que não seria capaz de afundar o navio. Bartlett, o capitão do navio tentou ainda encalhar na Ilha de Kea, mas não conseguiu. A imprensa britânica pensou que havia sido um ataque inimigo e aproveitou o evento para fazer propaganda contra a Alemanha.
O HMHS Britannic foi um navio de
passageiros britânico construído pelos estaleiros da Harland and Wolff em
Belfast para a White Star Line. Originalmente chamado de Gigantic, foi o
terceiro navio da Classe Olympic de transatlânticos depois do RMS Olympic e o
RMS Titanic. Sua construção começou em novembro de 1911 e ele foi lançado em 26
de fevereiro de 1914. O Britannic foi pensado para ser o maior, o mais seguro e
o mais luxuoso navio de sua classe, com seu desenho e projeto sendo alterados
depois do naufrágio do Titanic em abril de 1912.
O Britannic foi requisitado pela
Marinha Real Britânica em 1915 durante seu período de equipagem para servir
como navio hospital na Primeira Guerra Mundial, viajando entre o Reino Unido e
Dardanelos no Império Otomano. O navio sofreu uma explosão na manhã do dia 21
de novembro de 1916 no mar Egeu durante sua sexta viagem, afundando em pouco
menos de uma hora. Entretanto, as causas exatas de seu naufrágio permanecem
desconhecidas até hoje. A imprensa britânica pensou que havia sido um ataque
inimigo e aproveitou e evento para atacar a "barbárie alemã".
Ele foi substituído na frota da
White Star Line depois da guerra pelo RMS Majestic, com seus destroços sendo
localizados em 1975 pelo explorador francês Jacques-Yves Cousteau. O Britannic
é o maior navio naufragado do mundo, embora não tão famoso quanto seu irmão
Titanic, atraindo mergulhadores e expedições de exploração.
Joseph Bruce Ismay, presidente da
companhia de navios White Star Line, e lorde William Pirrie, 1.º Barão Pirrie e
presidente dos estaleiros navais da Harland and Wolff, decidiram em 1907 construir
três navios de proporções até então inigualáveis para competir com o RMS
Mauretania e o RMS Lusitania da Cunard Line. Entretanto, o objetivo dos dois
era competir em termos de luxuosidade, não em velocidade O nome dos três navios
foram posteriormente decididos e mostravam as intenções estilísticas em termos
de tamanho: Olympic, Titanic e Gigantic (em referência a três raças da
mitologia grega: olimpianos, titãs e gigantes). Os dois primeiros seriam
construídos praticamente juntos, enquanto o terceiro teria sua construção
iniciada depois do lançamento de seus irmãos.
Os projetos dos três navios foram
realizados pelos engenheiros navais Thomas Andrews e Alexander Carlisle, com a
construção das duas primeiras embarcações começando respectivamente em 1908 e
1909. Seus tamanhos eram tais que foi necessário antes construir pórticos
especiais para abrigá-los. Apenas dois podiam ser construídos lado a lado. Os
três navios originalmente tinham 270 m de comprimento, uma arqueação bruta de
aproximadamente 48 mil toneladas e seriam capazes de viajar em uma velocidade
média de 22 nós, abaixo dos recordes de velocidade do Mauretania e Lusitania,
mas mesmo assim o suficiente para completar uma viagem transatlântica em uma
semana.
O RMS Olympic foi lançado em
outubro de 1910 e realizou sua viagem inaugural em junho de 1911, enquanto o
RMS Titanic foi lançado em maio de 1911 e teve sua viagem inaugural em abril de
1912. A construção do Gigantic começou pouco depois com o batimento de sua
quilha em 30 de novembro de 1911, com seu comissionamento estando originalmente
previsto para algum momento no início de 1914. Os trabalhos se iniciaram em um
bom ritmo, porém rapidamente foram ofuscados pelo naufrágio do Titanic em 15 de
abril de 1912; a construção foi suspensa e os engenheiros decidiram esperar
para ouvir o resultado das comissões de investigação e as recomendações para
pensarem um modo de incorporá-las ao novo navio.
As investigações acarretaram
muitas mudanças, com a primeira sendo a respeito do próprio nome do navio.
Considerado muito orgulhoso, especialmente após o naufrágio do irmão Titanic, o
nome Gigantic foi alterado para Britannic, que já havia sido empregado
anteriormente em 1874 pela White Star Line em outra embarcação. A companhia sempre
negou que sua intenção original era chamar o navio de Gigantic, porém é
reconhecido que esse nome foi considerado, além de cartazes antigos e jornais
da época apoiarem esse fato.
Os trabalhos de construção foram
retomados e várias outras mudanças de projeto foram implementadas,
principalmente nas partes relacionadas à segurança do navio. Um casco duplo foi
adicionado, os compartimentos estanques centrais foram reforçados (com esta tendo
sido uma falha que acelerou o naufrágio do Titanic) e botes salva vidas com
capacidade para todos a bordo foram adicionados. Os novos compartimentos
estanques permitiam que o Britannic se mantivesse à tona com até seis
compartimentos inundados. Além disso, enormes troncos foram instalados a fim de
permitir que os botes fossem abaixados com maior rapidez, mesmo que o navio
estivesse adernando para um dos lados. A White Star Line também publicou
folhetos detalhando as melhorias de segurança do Britannic para combater a má
publicidade gerada pelo Titanic.
O Britannic foi lançado ao mar em
26 de fevereiro de 1914 sob o olhar de centenas de espectadores. Foi um dia
muito movimentado para a cidade de Belfast, com a imprensa realizando várias
entrevistas e um jantar especial sendo organizado em homenagem ao navio. O
processo de equipagem se iniciou em seguida para preencher o casco vazio com
várias máquinas e as chaminés. Esperava-se que a embarcação fosse concluída em
setembro, porém em julho a White Star anunciou que seu comissionamento seria
adiado até a primavera. Na realidade a empresa passava por problemas
financeiros e precisava se focar em seus navios já operantes. O Britannic foi
levado para a doca seca em setembro, com suas três hélices sendo instaladas.
A ideia do comissionamento na
primavera foi interrompida pelo início da Primeira Guerra Mundial. A equipagem
do navio foi paralisada e em 13 de novembro de 1915 o Britannic foi requisitado
pelo Almirantado Britânico para transportar soldados e feridos como navio
hospital, recebendo o prefixo His Majesty's Hospital Ship (HMHS).
O Britannic sofreu mais algumas
mudanças para poder se tornar um navio hospital, principalmente mudanças
visuais. Embora sua construção estivesse praticamente concluída, seu casco foi
pintado totalmente de branco com uma listra verde e três cruzes vermelhas de
cada lado iluminadas por lâmpadas. Em seu interior, 3.309 camas foram
instaladas. As áreas comuns dos conveses superiores foram transformadas em
quartos para os feridos, as cabines do convés B foram adaptadas para alojar os
médicos enquanto o salão de jantar e de recepção da primeira classe no convés D
foram transformados em salas de operação. Os conveses mais baixos também
ficaram direcionados para a acomodação de feridos. Todos os equipamentos
médicos foram instalados quando o Britannic chegou em Liverpool.
Essa transformação improvisada e
acelerada implicou um problema com os botes salva-vidas: somente cinco dos oito
troncos gigantes tiveram tempo de serem instalados. Os equipamentos do navio
foram então complementados por troncos tipo Wellin (os mesmo utilizados no
Olympic e no Titanic), capazes de descer dois barcos: um comum e um
desmontável. Esses troncos foram instalados na parte central do convés dos
botes, com dois deles também sendo colocados no convés da popa, totalizando 58
botes.
Como o terceiro e último navio da
Classe Olympic, o Britannic se beneficiou das melhorias julgadas como
necessárias depois do serviço de seus dois irmãos mais velhos, da mesma maneira
como o Titanic havia recebido algumas alterações antes de seu comissionamento
baseadas nas primeiras viagens do Olympic. Apesar de terem sido visualmente
quase idênticos, os construtores desde o início estavam cientes que existiriam
muitas diferenças entre os três navios. O naufrágio do Titanic e as medidas de
segurança resultantes causaram mudanças ainda maiores, porém mudanças no
pensamento dos clientes e da concorrência também tiveram um impacto sobre os
aspectos de negócio do navio. O custo inicial do Britannic foi estimado em 1,5
milhões de libras esterlinas, o mesmo de seus irmãos As alterações ocorridas
durante sua construção e sua conversão a navio hospital acabaram aumentando os
custos, com o valor total sendo estimado em 1,9 milhões de libras em valores da
época. Seu maquinário era o maior já construído até então em uma época que a
propulsão a vapor estava sendo lentamente substituída por uma propulsão gerada
apenas por turbinas.
O Britannic recebeu várias
melhorias para corrigir insuficiências observadas no naufrágio do Titanic. O
casco duplo ficou mais espesso e foi estendido até o convés F ao longo da parte
central do navio. Assim, teoricamente, a água não poderia alcançar as salas das
caldeiras em caso de colisão e o centro da embarcação estaria protegido. O
navio podia se manter flutuando em caso de até seis compartimentos frontais
estarem inundados (enquanto o Titanic podia ter apenas quatro). Dessa forma, os
construtores acreditavam que o Britannic estava protegido de todos os perigos
que poderiam aparecer contra um navio comercial. Dois barcos a motor também
foram colocados abordo em caso de alguma emergência. Tudo isso foi feito para
tentar apagar a memória da falta de botes suficientes do Titanic.
A ponte de comando também foi
alterada em relação aos dois predecessores: em seu telhado foi colocada uma
plataforma para acomodar a bússola. Outro defeito do Olympic e do Titanic
consertado no Britannic foi a falta de conexão entre a sala de rádio e a ponte,
que originalmente impedia que os operadores transmitissem com facilidade os
avisos de iceberg aos oficiais. No novo projeto um sistema de transporte
pneumático ligava os dois, evitando que os operadores de rádio tivessem que
sair de seus postos. Os planos eram para que o Britannic fosse mais luxuoso que
seus dois irmãos com o objetivo de competir com os recém-lançados SS Imperator,
SS Vaterland e RMS Aquitania. Ele foi projetado para acomodar até 2.579
passageiros divididos em três classes. A White Star Line estava antecipando uma
provável mudança de clientela e decidiu reduzir o tamanho da terceira classe
(destinada principalmente aos imigrantes) em favor de um aumento para a segunda
classe, tudo isso quanto comparado ao Olympic e ao Titanic. Além disso, sua
tripulação prevista era de por volta de 950 pessoas, enquanto seus dois
predecessores ficavam entre 860 e 880.
A primeira classe teve suas
instalações melhoradas. As crianças, que anteriormente eram vistas como uma
irritação começaram a ser consideradas como clientes a serem satisfeitos, com
uma sala de jogos especial sendo colocada no convés dos botes ao lado do
ginásio. Tal como o Olympic e o Titanic, as instalações e acomodações da
primeira classe eram servidas por uma majestosa grande escadaria, porém a do
Britannic era ainda mais suntuosa: além da cúpula de vidro, dos gradios
trabalhados e os painéis decorativos, um órgão de tubo alemão foi encomendado
para adornar os conveses mais superiores (porém nunca instalado), enquanto os elevadores
ganharam um andar a mais e passaram a chegar até o convés dos botes. O convés A
era totalmente dedicado à primeira classe e, além de uma sala de estar e dois
cafés que permaneceram inalterados, o navio foi equipado com uma sala de
fumantes; porém, era mais estreita que a do Titanic por causa de uma sala
técnica. Para compensar a perda de espaço, os fabricantes colocaram um dossel
no seu centro para aumentar significantemente a altura do teto. A sala de
leitura também foi modificada e teve sua segunda parte removida a fim de abrir
caminho para as cabines. Toda uma área dedicada à beleza e aparência foi
colocada no convés B, com um barbeiro, salão de beleza e salão de manicure.
Entretanto, a adição mais importante do Britannic em relação aos irmãos diz
respeito aos banhos individuais em quase todas as cabines da primeira classe,
sendo o primeiro navio da história a ter essa característica (anteriormente, os
passageiros tinham que usar banheiros e sanitários públicos).
Os planos de alteração se
estendiam também para as outras classes, prevendo a adição de um ginásio para a
segunda classe e um espaço comum coberto para a terceira classe. O fumódromo da
terceira classe subiria um convés e permitiria que seus ocupantes tivessem uma
vista do mar. Por fim, a alteração na disposição dos botes traria duas
principais vantagens: a primeira era que o convés dos botes teria mais espaço
que seus equivalentes do Olympic e no Titanic (exceto nos locais onde os troncos
estavam localizados), e a segunda era que agora a terceira classe teria acesso
direto aos botes salva-vidas, algo que não aconteceu durante o naufrágio do
Titanic. Essas últimas instalações não foram concluídas uma vez que o Britannic
nunca realizou viagens comerciais, com seus elementos decorativos e mobílias
sendo armazenados durante sua conversão para navio hospital.
Sabe-se muito pouco sobre desenho
interior do Britannic como navio hospital, existindo pouquíssimas imagens. O
navio tinha espaço suficiente para acomodar 3.309 pacientes, mais tripulantes,
médicos e enfermeiros, fazendo com que o total de pessoas abordo chegasse a
4.473, mais de mil a mais do que em serviço comercial. Sua capacidade era tal
que várias balsas eram necessárias para embarcar e desembarcar pacientes. O
Britannic mesmo assim ficava atrás do Aquitania como o maior navio hospital do
mundo, com o segundo podendo acomodar até 4.200 pacientes. Suas instalações
foram muito despojadas durante seu serviço na guerra: os painéis e outros
elementos decorativos foram removidos, como é evidenciado em uma das poucas
imagens de sua grande escadaria. Dormitórios foram construídos no maior número
possível de espaços disponíveis. Assim, as áreas de passeio do convés B foram
transformadas em acomodações para oficiais feridos. As salas foram
transformadas em refeitórios, enquanto que é quase certo que sua piscina
coberta (originalmente destinada aos passageiros de primeira classe) permaneceu
funcionando para que a tripulação se exercitasse.
O Britannic foi declarado apto
para o serviço em 12 de dezembro de 1915, recebendo uma equipe médica de 101
enfermeiros, 336 suboficiais, 52 oficiais e uma tripulação de 675 pessoas. Dois
dias antes de partir o navio se encontrou com o Olympic em Liverpool, a única
ocasião em que os irmãos estiveram juntos. A tripulação embarcou sob o comando
do capitão Charles Bartlett, um respeitado comandante da White Star Line. Seu
engenheiro chefe era Robert Flemming e o cirurgião chefe era John Beaumont;
ambos estavam acostumados com os navios da classe por já terem servido abordo
do Olympic, ficando muito satisfeitos com sua nova missão. Beaumont até afirmou
que o Britannic era "O navio hospital mais maravilhoso que já
navegou". O navio deixou Liverpool em 23 de dezembro de 1915 com destino a
Mudros na ilha de Lemnos, Grécia, no mar Egeu para trazer doentes e feridos.
Ele se juntou a vários outros navios de passageiros que foram transformados em
navios hospitais e estavam servindo na mesma rota, como o Mauretania e o
Aquitania, e até mesmo o Olympic (que, ao contrário dos outros três, não serviu
como navio hospital, mas sim para o transporte de tropas). O SS Statendam mais
tarde também se juntou às quatro embarcações. A equipe era capaz de transportar
cerca de 33 mil soldados e dezessete mil doentes e feridos.
O navio fez sua primeira parada
em Nápoles, Itália, para reabastecer suas reservas de carvão, em seguida indo
para Mudros e Dardanelos, Império Otomano, voltando para a Inglaterra em 9 de
janeiro de 1916 com três mil feridos que foram distribuídos pelos hospitais de
Londres. Esta viagem foi marcada por duas mortes por tuberculose e o
desaparecimento de um homem que caiu no mar. Sua segunda viagem foi mais curta,
indo apenas até Nápoles e retornando. Ao voltar o Britannic permaneceu durante
quatro semanas perto da Ilha de Wight como um hospital flutuante.
A terceira viagem ocorreu entre
20 de março e 4 de abril. Um homem morreu de diabetes no último dia. Ao final
dessa travessia, o Britannic e seus companheiros foram dispensados do serviço
por não serem mais considerados como necessários, já que a evacuação de
Dardanelos havia sido finalizada. Ele voltou para Belfast em 6 de junho a fim
de passar por modificações necessárias para finalmente servir como um
transatlântico tradicional. A White Star Line foi compensada pelo governo
britânico em 75 mil libras para realizar as alterações. Esses trabalhos foram
feitos durante vários meses antes de serem interrompidos, sendo desconhecido o
quanto estavam finalizados.
O Almirantado Britânico convocou
o Britannic novamente para o serviço em 28 de agosto de 1916, com o navio
partindo para sua quarta viagem em 24 de setembro. As equipes médicas e de
resgate eram compostas por voluntários. Ele chegou em Nápoles em 29 de
setembro, enfrentando uma tempestade violenta, mas saindo ileso. O Britannic
então voltou para Southampton e chegou no dia 9 de outubro, partindo logo em
seguida para sua quinta viagem. Esta nova jornada foi marcada por uma
quarentena oficial que todos abordo tiveram de passar assim que chegaram em
Mudros. A tripulação tinha sofrido uma intoxicação alimentar e o navio
permaneceu atracado por toda duração do inquérito.
Um incidente diplomático ocorreu
logo depois do seu retorno ao Reino Unido. O cantor de ópera austríaco Adelbert
Messany viajou no Britannic e observou soldados de uniforme abordo, sendo
rápido para denunciar o ocorrido ao seu governo. Apesar de o Almirantado
Britânico ter negado veementemente a afirmação, o Império Alemão posteriormente
levou isso em conta quando elaborou em janeiro de 1917 uma lista de 22 pontos
que consideravam os navios hospitais como obsoletos. A vida a bordo do
Britannic seguia uma rotina fixa. Os pacientes eram acordados e higienizados às
6h. O café da manhã era servido às 6h30min e no mesmo horário o capitão fazia
uma inspeção pelo navio. O almoço era servido às 12h30min e o chá da tarde às
16h30min. Os pacientes eram atendidos entre as refeições e aqueles que desejavam
caminhar podiam andar pelo convés, contanto que não usassem uniformes militares
para não provocar ataques inimigos. Os pacientes voltavam para suas camas às
20h30min e o capitão realizava mais uma inspeção. Os dias eram puxados para os
enfermeiros mesmo sem pacientes e feridos abordo, com eles frequentando cursos
desportivos e conferências médicas de treinamento.
A sexta viagem começou em 12 de
novembro de 1916, também com destino a Mudros. O Britannic novamente foi
comandando pelo capitão Charles Bartlett. Também a bordo em sua primeira viagem
no navio estava a comissária e enfermeira Violet Jessop, que tinha servido
abordo do Olympic e foi uma das sobreviventes do naufrágio do Titanic. A
travessia começou sem problemas e o Britannic ficou parado durante dois dias no
porto de Nápoles, Itália, por causa de uma tempestade, retornando em seguida ao
seu percurso através do mar Egeu. O Britannic sofreu uma explosão por volta das
8h12min do dia 21 de novembro de 1916 enquanto passava pelo canal entre as
ilhas de Kea e Makronisos, abrindo um enorme buraco no lado estibordo de seu
casco.
A equipe hospitalar estava na sala de jantar tomando o café da manhã no
momento da explosão. Jessop depois escreveu em suas memórias que, ao contrário
do que havia acontecido no Titanic, a tripulação de imediato tomou consciência
da gravidade da situação. Bartlett e o oficial chefe Robert Hume subiram para a
ponte de comando e logo também perceberam o perigo da situação. Além de abrir
um buraco nos compartimentos 3 e 4, a explosão também danificou os
compartimentos adjacentes. O corredor de ligação da sala da caldeira 6 com os
alojamentos também foi inundado, fazendo com que a água entrasse nas caldeiras.
Estima-se que em apenas alguns minutos mais de dez mil toneladas de água já
haviam entrado no Britannic (em comparação, demorou quase uma hora para a mesma
quantidade de água entrar no Titanic). As comportas estanques foram acionadas,
porém aquelas situadas na sala da caldeira 6 não funcionaram, provavelmente por
terem sido danificadas na explosão; mesmo assim o navio teoricamente ainda
poderia permanecer flutuando, pois seu projeto permitia que até seis
compartimentos ficassem inundados. [ Entretanto, o problema foi que várias das
janelas e escotilhas do Britannic foram abertas durante a viagem para poder
arejar a embarcação, assim a água conseguiu entrar pelas mesmas e inundar
compartimentos que haviam ficado intactos.
O navio começou a adernar para
estibordo. Um sinal de socorro SOS foi enviado imediatamente para todas as
embarcações próximas. O cruzador HMS Scrouge estava ocupado em uma missão para
tentar desencalhar um navio que havia batido em uma mina aquática, porém
rapidamente mudou seu curso para ir ao resgate do Britannic. O mesmo ocorreu
com o HMS Heroic. Bartlett não tinha conhecimento da inundação da caldeira e
subestimou os danos, decidindo levar o navio para a praia da ilha de Kea e
ordenando que as máquinas entrassem em ré. Ele conseguiu virar a embarcação,
porém isso acabou acelerando a entrada de água.
A equipe hospitalar começou a se
preparar para a evacuação. Bartlett deu a ordem para que os botes salva-vidas
fossem preparados, porém não autorizou seus lançamentos. Todos abordo correram
para pegar pertences valiosos antes de saírem do navio. Jessop disse que levou
sua escova de dente porque era o item que tinha mais sentido falta depois do
naufrágio do Titanic. Os poucos pacientes e feridos foram levados para o convés
dos botes pelo tenente Schakelton. Da mesma forma, todos os enfermeiros foram
reunidos pelo capitão Renton e também levados ao convés. Por fim, o major
Priestley reuniu seu destacamento do Corpo Médico da Armada Real para
inspecionar todas as cabines e garantir que ninguém havia sido deixado para
trás. O navio adernava cada vez mais a medida que Bartlett continuava sua
manobra em direção a Kea. A tripulação no convés começou a temer que o
adernamento ficasse muito grande e decidiram lançar os primeiros botes sem
permissão. Bartlett tinha tomado conhecimento da situação das caldeiras e
planejava primeiro parar as máquinas antes de lançar os botes e depois tentar
encalhar o navio.
Porém, antes que conseguisse agir, dois botes foram lançados
no lado bombordo. As hélices nesse momento estavam quase no nível d'água e
criaram um efeito de sucção que puxou os botes, esmagando-os. Dentre as pessoas
nesses primeiros botes estava Jessop, que conseguiu se salvar pulando no mar a
tempo, porém acabou batendo a cabeça na quilha de um barco que veio em socorro.
Coincidentemente, dois outros sobreviventes do Titanic, Archie Jewell e George
Perman, também conseguiram se salvar. Bartlett não soube do ocorrido, mas
finalmente parou as hélices, poupando outro bote do mesmo destino. A evacuação
continuou em ordem, mas com algumas exceções: no lado bombordo um dos oficiais
conseguiu manter a disciplina e evitar que uma multidão superlotasse um dos
botes, enquanto um grupo indisciplinado tomou a iniciativa de ir lançar os
botes no convés da popa. Outros, como o reverendo Flemming, conseguiriam guiar
pequenos grupos e distribuí-los ordenadamente nos barcos. Rapidamente o
Britannic ficou deserto, com o último bote sendo lançado às 9h. Bartlett
permaneceu abordo decidido a salvar o navio a todo custo. Ele tentou religar as
máquinas na esperança de alcançar Kea, porém desistiu quando viu a proa quase
totalmente submersa. O capitão foi o último a abandonar o navio, pulando da
ponte e nadando até conseguir entrar em um dos botes. Enquanto a popa se erguia
para fora d'água a proa bateu no fundo do mar, pouco mais de cem metros abaixo.
O Britannic adernou completamente para estibordo e desapareceu da superfície às
9h07min. Das 1125 pessoas a bordo, 30 morreram e 45 ficaram feridas.
O Scrouge havia recebido o pedido
de socorro do Britannic às 8h15, indo para o local do naufrágio acompanhado
por dois rebocadores franceses. No entanto, os primeiros a resgatar os
náufragos foram os pescadores de Kea. No momento do naufrágio, 35 botes
salva-vidas tinham sido lançados. Algumas pessoas que haviam caído ou pulado no
mar conseguiram nadar até esses botes ou foram resgatados pelos pescadores.
Felizmente para esses náufragos, eles não tiveram que suportar um mar
congelante como tinha sido o caso com o Titanic, com nenhuma vítima sendo
registrada nessas circunstâncias. Além disso, o Britannic estava equipado com
dois barcos a motor que auxiliaram no resgate dos nadadores. Muitos dos
sobreviventes foram levados para Kea, onde receberam pronto auxílio de seus
habitantes. O Scrouge chegou no local às 10h e resgatou 339 pessoas. O Heroic
havia chegado pouco antes e conseguiu recuperar 494 sobreviventes. Ambos os
navios não tinham condições de acomodar mais pessoas, então o contratorpedeiro
HMS Foxhound assumiu o resgate às 11h45min. No total, 1036 pessoas foram
resgatadas. Os sobreviventes mais feridos foram transferidos para os dois
barcos a motor do Britannic e levados até a baía de São Nicolau no noroeste de
Kea. Alguns sobreviventes também foram passados para o HMS Duncan, onde a
tripulação foi particularmente atenciosa com os enfermeiros. Cerimônias foram
realizadas para honrar e lamentar as trinta vítimas do naufrágio.
Posteriormente, os sobreviventes foram enviados para casa através de diversos
meios, com a maioria chegando depois do natal de 1916.
A perda de um grande navio em
tais circunstâncias não passou despercebida, com a imprensa começando a
noticiar o fato dois dias depois do ocorrido, porém acompanhadas por vários
erros e propagandas devido ao contexto da Primeira Guerra Mundial. Já o
Almirantado Britânico foi discreto e rapidamente enviou uma equipe para o local
do naufrágio a fim de recuperar os botes, coletes salva-vidas, cobertores e até
mesmo maços de cigarros relacionados ao incidente.
As autoridades gregas
fizeram o mesmo e mantiveram o caso em segredo por mais de cinquenta anos. Os
jornais relataram que o naufrágio tinha sido uma "atrocidade"
cometida pela Alemanha, cujos submarinos não tinham hesitado em torpedear um
navio hospital levando centenas de feridos. As causas do incidente ainda eram
incertas e a imprensa rapidamente começou a reportar os nomes dos passageiros
do Britannic, porém as notícias motivadas por propaganda não terminaram. Por
meses os meios de comunicação criticaram e culparam os alemães, agravando tudo
pelo fato do navio claramente portar as cores e indicativos visuais de um navio
hospital. As denúncias da suposta "barbárie alemã" foram reforçadas
pelos eventos similares do HMHS Asturias, outro navio hospital que um ano antes
havia sido torpedeado por um submarino alemão. Além disso, o HMHS Braemar
Castle se encontrou nas mesmas circunstâncias e quase no mesmo local dois dias
depois do naufrágio do Britannic. Para os britânicos, tudo isso foi uma
declaração de guerra contra seus navios hospitais. Extraordinariamente, foi
publicado um artigo em um jornal alemão que quase parecia uma confissão do ato:
"O Britannic estava transportando tropas descansadas para nossos inimigos.
Se esse não tivesse sido o caso, nossos submarinos, naturalmente, nunca teriam
torpedeado". Entretanto, este é o único documento alemão que afirma
claramente que o naufrágio foi causado por um torpedo.
A questão dos motivos do
naufrágio do Britannic surgiram quase que imediatamente. O Almirantado
Britânico estava muito ocupado com todas as operações de guerra e deu apenas
dois dias para os capitães George Staer e Huge Heard, que estavam presentes no
local, para recolherem evidências e formarem um relatório. Isso tudo assumiu a
forma de uma carta enviada em 24 de novembro, o que é muito pouco quando
comparada as centenas de páginas de relatório sobre o naufrágio do Titanic. A
principal dúvida era se o navio tinha afundado por causa de um disparo de
torpedo ou pela colisão com uma mina aquática.
Os testemunhos e as provas
indicavam ambos os lados. Alguns sobreviventes afirmaram ter visto algo que se
assemelhava ao rastro de um torpedo, mas não a coluna d'água que normalmente
acompanha as detonações. Já outros relatórios mostravam que minas haviam sido
recentemente colocadas na área. A conclusão de Staer e Heard foi vaga: "os
efeitos da explosão podem ter vindo de uma mina ou de um torpedo. Parece mais
provável que tenha sido uma mina". Isso em si não era suficiente, pois o
Britannic em teoria tinha sido construído para resistir esse tipo de choque.
Assim, dois outros fatores explicaram o naufrágio. O primeiro era que algumas
portas estanques não foram fechadas, enquanto outras foram rapidamente abertas
para que a tripulação pudesse chegar em seus aposentos e pegar objetos
pessoais. O segundo e mais fatal foi que várias janelas dos conveses E e F
estavam abertas: como o navio adernou para estibordo, a água começou a inundar
não apenas os compartimentos danificados, mas até áreas intactas, fazendo com
que mais água entrasse rapidamente no navio e inundando compartimentos acima da
linha d'água.
A tese do torpedo foi desafiada
na década de 1970 quando os destroços do Britannic foram descobertos. Os
pesquisadores deduziram que uma segunda explosão ocorreu dentro do navio após a
primeira, tendo sido causada por um incêndio nos depósitos de carvão. O Titanic
tinha passado por um incidente similar entre 2 e 13 de abril de 1912, quando um
incêndio ocorreu em seu depósito de carvão nº 6. No entanto, essa suposição foi
desmentida em 1999 quando se descobriu que os depósitos de carvão da embarcação
estavam todos intactos. Também foram mencionadas uma explosão possivelmente
causada por dispositivos médicos ou armas secretas que estavam sendo
transportadas, porém não há nenhuma evidência que apoie essas teorias. A
descoberta na década de 2000 de várias minas aquáticas ainda ancoradas na
região do naufrágio deram grande força para a teoria da colisão com uma mina,
com essa sendo a causa provável mais defendida e apoiada atualmente.
Os destroços do Britannic foram
encontrados em 3 de dezembro de 1975 pelo explorador francês Jacques-Yves
Cousteau, ele entrou nos destroços pela primeira vez no ano seguinte com
mergulhadores, porém antes precisou conseguir autorização das autoridades
gregas. O campo de destroços foi explorado pelo pequeno submarino SP-350, com a
equipe estando acompanhada pela sobrevivente Sheila Mitchell. Alguns itens
foram recuperados e um documentário foi produzido para a série de televisão As
Odisseias Submarinas de Jacques Cousteau. O grego Kostas Thoctarides realizou
um mergulho solo de vinte minutos em 1995. No mesmo ano, Robert Ballard (que
dez anos antes havia descoberto os destroços do Titanic) usou um veículo
submarino operado remotamente a partir do submarino NR-1 da Marinha dos Estados
Unidos para ir no interior no navio, com um novo documentário de televisão
sendo feito. Kevin Gurr mapeou alguns detritos e explorou os destroços em 1997.
Nick Hope entrou nos destroços em 1998 e produziu mais um documentário. Jarrod
Jablonski realizou cerca de 96 mergulhos ao Britannic no ano seguinte. Kostas
Thoctarides voltou ao navio em 2001 com o submarino Thétis e filmou os
destroços. As filmagens posteriormente foram usadas pelo jornalista Giorgos
Avgeropoulos (que estava abordo do submersível) na produção de mais um
documentário para a televisão.
Carl Spencer entrou pela primeira vez na sala da
caldeira nº 6 em 2003 através da porta estanque que ficou aberta, também
descobrindo minas aquáticas na região próxima ao navio. Dois documentários
foram produzidos nessa ocasião. A sala da caldeira nº 6 foi explorada mais a
fundo em 2006, com o casco também recebendo grande atenção. Um outro
documentário foi produzido para o canal francês Histoire por John Chatterton e
Richie Kohler. Uma expedição internacional foi realizada entre 12 e 25 de
outubro de 2008. Apesar de preocupações com o clima, os onze mergulhadores
conseguiram fazer sete incursões ao naufrágio. Spencer morreu em 24 de maio de
2009 em consequência de uma doença de descompressão depois de mais um mergulho
para a produção de um novo documentário, desta vez para o National Geographic
Channel. Ele já tinha participado de três expedições ao local.
O Britannic é o maior navio
naufragado do mundo. Ele repousa em seu lado estibordo, impossibilitando medir
diretamente a extensão dos danos causados pela explosão. Há um enorme ruptura à
frente da ponte de comando que separa o resto do navio de sua proa. Sua
magnitude é muito grande para ter sido causada por qualquer explosão, sendo
mais provável que ocorreu pela pressão exercida pelo navio enquanto estava
afundando, quebrando justamente no local mais frágil quando a proa atingiu o
fundo do mar. Foram encontrados vários cacos de vidro do domo da grande
escadaria, com as quatro chaminés tendo sido arrancadas de suas bases. Vários pedaços
de carvão estão espalhados ao redor dos destroços. Cousteau conseguiu resgatar
alguns objetos em sua expedição de 1976, incluindo um sextante encontrado perto
da sala dos mapas. Os destroços do Britannic foram comprados por um britânico
em 1977 pelo valor de 2500 libras esterlinas. O navio foi comprado novamente em
1996 pelo historiador Simon Mills pela quantia de quinze mil libras com o
objetivo de preservá-lo o máximo possível. Robert Ballard teve a ideia no
início da década de 2000 de transformar o Britannic no primeiro museu submarino
do mundo, equipando-o com câmeras que permitiriam que visitantes vissem os
destroços a partir da superfície. O projeto nunca se materializou.
Como o Britannic naufragou
durante a guerra nunca tendo servido comercialmente como navio de passageiros,
além de ter tido poucas vítimas, ele nunca atraiu o mesmo interesse e
entusiasmo que seu irmão o Titanic. Ele logo foi esquecido pelo público, com sua
fama voltando apenas depois da descoberta de seus destroços. Além disso, seu
nome seria reutilizado em 1930 pela White Star Line no MV Britannic. Este foi o
último navio da empresa, que em 1934 foi comprada pela Cunard Line. A perda de
dois dos três navios da Classe Olympic antes que pudessem completar uma única
viagem comercial foi um enorme prejuízo financeiro para a White Star Line. O
Tratado de Versalhes compensou em parte esse problema, já que a derrotada
Alemanha foi obrigada a dar vários de seus navios para os países da Tríplice
Entente, com dois indo para a White Star. O SS Bismarck, então o maior navio do
mundo, foi rebatizado como RMS Majestic e substituiu o Britannic, enquanto o
muito menor SS Columbus (rebatizado de RMS Homeric) foi a compensação por
outros navios perdidos durante o conflito, como o SS Laurentic. Com esses dois
navios mais o Olympic, que conseguiu sobreviver ileso à guerra, a companhia foi
capaz de estabelecer um serviço transatlântico, porém bem longe daquilo que Joseph
Bruce Ismay havia imaginado quando encomendou os três irmãos.
A história do Britannic acabou
inspirando em 2000 um telefilme de mesmo nome dirigido por Brian
Trenchard-Smith para o canal norte-americano Fox Family. Entretanto, o filme
contém vários erros históricos, como o navio tendo sido afundado por um espião
alemão para destruir um carregamento secreto de armas.
Local do naufrágio do Britannic
O explorador francês Jacques Costêau
O capitão do Britannic Charles Bartlett
Capa do filme Britannic de 2000 - Com Jacqueline Bisset
Os destroços do Britannic
A enfermeira Violet Jessop - Sobrevivente do Titanic e do Britannic
Filme Britannic completo
Vídeo sobre o navio Britannic

















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